Alunos da EMEI Gente Miúda cultivam felicidade em meio às flores

JARDIM AFETIVO. Comunidade escolar se mobiliza para ensinar aos pequenos através dos ciclos da natureza

“O que te faz feliz?” Essa pergunta foi feita pela professora Daniela Hecker para os pequenos alunos do Jardim I da Escola Municipal de Educação Infantil Gente Miúda (EMEI), em Montenegro, e revelou respostas surpreendentes. A partir dali, uma onda de ações ligadas ao meio ambiente se espalhou pela escola, envolvendo educadores, alunos, pais e toda a comunidade escolar.

Tudo teve início no mês de agosto. Segundo Daniela, por se tratar de um mês de baixas temperaturas e com poucas atividades capazes de empolgar a garotada, surgiu a ideia de fazer as crianças refletirem sobre o que as fazem felizes. “Chamou a atenção que, em cada uma das minhas duas turmas, uma criança falou que plantar flores fazia ela feliz. Achei aquilo atípico para crianças”, relata a educadora.

Pequenos bichinhos encantam no local. foto: arquivo pessoal EMEI Gente Miúda

A resposta dos pequenos despertou em Daniela a vontade de explorar as possibilidades de “promoção da alegria” por meio das flores. “Comecei a pensar como poderia desdobrar isso na sequência. Outra coisa que surgiu nessas falas foi o Sol, então, acabamos ligando tudo e chegando ao girassol”, conta.

Na primeira experiência, a professora apresentou aos seus alunos sementes de girassol. Eles puderam tocar, cheirar e descobrir que, sem casca, a semente é comestível. Também surgiu a proposta de ocupar um corredor da escola, pelo qual poucas pessoas passavam, para plantar as sementes de girassol. “As janelas das salas de aula têm vista para esse corredor. A intenção foi plantar as sementes ali para surpreender os alunos das outras turmas e, quando os girassóis surgissem, eles também pudessem se sentir felizes”, explica a professora.

Aos poucos o amarelo do girassol foi dando espaço para novas cores entrarem na sala de aula. No mês de setembro, em alusão ao Dia do Gaúcho, Daniela levou a flor Brinco de Princesa para ser conhecida pelas crianças. Em paralelo, a chegada da nova Estação do ano trouxe ainda mais inspiração para a educadora e conhecimento para os alunos. “Quando chegou a Primavera, cantamos a música do Tim Maia e trouxemos a rosa. Então, começaram a aparecer outras flores na sala”, completa Daniela.

O surgimento do Jardim Afetivo dos Miudinhos
“Jardins encantados tem flores, tem formigas, tem fadas coloridas chamadas de borboletas. Jardins encantados têm suculentas sorridentes sobre as águas de uma fonte. Jardins encantados tem abelhas, tem alegria, tem anões em correria todos querendo ouvir poesia”, o poema do livro Casa Feita de Poesia, do escritor montenegrino Carlos Fernando Leser, também gerou inspirações na escola.

Miudinhos plantam suas próprias flores . foto: arquivo pessoal EMEI Gente Miúda

Na semana do Dia das Crianças, a professora Patrícia Franz levou o livro para ler para seus alunos do berçário 2. As crianças adoraram o poema intitulado Jardins Encantados e passaram a observar situações que antes passavam despercebidas por seus pequenos olhos. “Começou a esquentar a temperatura e aparecer bichinhos, um dia apareceu uma borboleta, em outro uma joaninha, cascudinho, e as crianças começaram a se interessar muito por eles”, conta Patrícia.

Sem conhecer o trabalho que já ocorria nas duas turmas de Daniela, Patrícia também pautou o tema natureza nas atividades com seus alunos. O primeiro debate com os alunos foi sobre o que poderia estar atraído os bichinhos para a sala de aula. Os pequenos foram instigados a pensar no que poderiam fazer para que mais “amiguinhos” coloridos pudessem lhes visitar e o que poderiam oferecer a eles como alimento.

Espertas, as crianças concluíram que seria difícil atrair mais animais para dentro da sala, pois as janelas, e outros fatores, atrapalhavam o ingresso deles. E que o local mais adequado para se ter a presença dos bichinhos seria um jardim. “Temos esse jardim na janela dos fundos, eles passaram a não sair mais da janela. Começamos a limpar, colocar umas pedrinhas para ficar mais bonito, trouxe algumas mudas de flores de casa e a coisa foi tomando vulto”, conta Patrícia.

Daniela percebeu que a turma de Patrícia estava cuidando do canteiro e ambas acabaram somando forças para a ampliação do jardim. “Conversamos para ver se poderíamos levar nossas flores para lá e convidamos as famílias para trazerem uma flor de casa”, diz Daniela.

A parceria envolveu cerca de 65 crianças, com idades entre dois e cinco anos, das três turmas. “Está bem bonito, eles continuam em função das flores e bichinhos. Quando acham joaninhas querem levar para o jardim, dizem que o lugar do bichinho é no jardim”, conta Patrícia. “É um jardim afetivo. Tem um pedacinho de cada um ali. O Jardim dos Miudinhos é mais um espaço de alegria dentro da escola”, avalia Patrícia.

Curiosidade não falta aos pequenos. foto: arquivo pessoal EMEI Gente Miúda

Conhecimento e envolvimento
A professora Daniela Heckler conta que houve uma conexão favorável em prol do desenvolvimento do jardim e de estímulo ao conhecimento da garotada. “Em outubro, trabalhamos a obra literária O Pequeno Príncipe, por causa da rosa. Uma coisa foi se linkando a outra, eles passaram a alimentar os pássaros, a regar e cuidar do jardim”, ilustra a docente.

O contato com a natureza deu oportunidade para a educadora explicar outras questões importantes de serem compreendidas a partir da faixa etária dos alunos, entre elas o ciclo da vida. “Eles passavam e comentavam que o Brinco de Princesa morreu, aí expliquei que é preciso esperar, pois daqui a um tempo ele vai florescer de novo. Se trata do entendimento do ambiente e das coisas da vida em si”, compara Daniela.

O conhecimento transforma a forma de ver e de interagir com o meio. Os pequenos alunos passaram a reconhecer as flores pelo nome, entenderam que para crescer e se desenvolver as plantas precisam de Sol e de água. Os guardiões do jardim regam diariamente as plantinhas e acompanham atentos o surgimento de novas flores e bichinhos nos canteiros.

“As crianças estão entendendo o jardim como outras possibilidades que eles não tinham visto antes. Levam isso para casa e segue a conversa em família. Tem envolvimento das famílias, a mãe traz para a escola a muda de flor colhida pela bisavó da criança e alcançada à ela pelo vô. A escola acaba sendo uma extensão da casa deles”, conclui a professora Patrícia.

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