As alergias alimentares é uma condição que pode afetar a qualidade de vida de muitas pessoas. Para entender melhor essas questões, o Ibiá entrevistou a nutricionista montenegrina Cristiane Junges, que forneceu informações detalhadas sobre as diferenças, sintomas, diagnóstico e tratamentos. “Alergia alimentar é uma reação do sistema imunológico a um alimento específico”, afirma. “Os alimentos mais comuns que desencadeiam alergias incluem nozes, amendoins, mariscos, peixes, leite, ovos, trigo e soja”. Sendo assim, a alergia alimentar é uma reação imunológica, comum em crianças e frequentemente hereditária.
As alergias alimentares são desencadeadas quando o sistema imunológico identifica erroneamente uma proteína em um alimento como nociva. Em resposta, ele libera substâncias químicas, como a histamina, para “combater” essa proteína, resultando nos sintomas da alergia.
Os sintomas de alergias alimentares podem variar amplamente e incluem coceira na boca ou garganta; inchaço dos lábios ou língua; erupções cutâneas; diarréia; náusea e vômito; tontura; dor abdominal e dificuldade de respirar. “Os sintomas podem se manifestar em até duas horas após a ingestão do alimento alergênico e durar de sete a dez dias”, explica Cristiane. Ela enfatiza a importância de consultar um médico ao apresentar esses sintomas, pois as reações podem ser fatais.
Viajar com alergias alimentares e sair para fazer refeições fora de casa pode ser desafiador. “É essencial informar ao restaurante ou responsáveis pela alimentação sobre a alergia. Na dúvida, evite consumir alimentos desconhecidos”, aconselha. No caso de viagens, ela sugere levar alimentos seguros para evitar dificuldades de oferta alimentar.
Diagnóstico e prevenção
O diagnóstico geralmente é feito através de exame de sangue, que detecta anticorpos IgE específicos para substâncias alergênicas; testes cutâneos que identificam substâncias que causam reações alergias e testes de eliminação, que remove alimentos suspeitos da dieta para observar se os sintomas desaparecem.
A amamentação exclusiva até os seis meses de vida é a única medida comprovada cientificamente para reduzir o risco de alergias alimentares. “Uma alimentação saudável e equilibrada é fundamental para evitar sensibilizações errôneas”, diz Cristiane, ressaltando que o intestino, considerado nosso segundo cérebro, precisa de cuidados especiais.
Tratamento
“O tratamento consiste em excluir totalmente o alimento responsável pela reação alérgica”, afirma a profissional. Além disso, é crucial evitar a contaminação cruzada durante o cultivo, produção e consumo dos alimentos. “Poe exemplo, para pessoas com doença celíaca, até pequenas quantidades de glúten podem causar reações severas. É importante evitar a contaminação cruzada, como usar a mesma faca para cortar pão com e sem glúten”.
O tratamento para a alergia alimentar depende da gravidade dos sintomas apresentados, que podem variar de pessoa para pessoa, sendo geralmente feito com remédios anti-histamínicos ou com corticoides, que servem para aliviar e tratar os sintomas da alergia. Ainda segundo Cristiane, o tratamento pode incluir loções de calamina, pomadas com corticóides, vasoconstritores nasais e anti-histamínicos orais.
Alimentação saudável
Cristiane enfatiza a importância de uma alimentação nutritiva e variada, priorizando alimentos da estação. “A restrição de alimentos alergênicos não traz prejuízos, pois podem ser substituídos por outros. Na minha prática, a farinha de trigo pode ser substituída por farinhas de aveia, araruta, amido de milho, polvilho doce, fécula de batata, farinha de grão de bico, linhaça, chia e trigo sarraceno”, assinala. Cristiane Junges lembra da importância de entender e manejar adequadamente as alergias alimentares, adaptando a dieta conforme necessário para garantir uma vida saudável e equilibrada. “Nossa alimentação é nosso combustível. Deve ser nutritiva e variada, sempre respeitando as restrições necessárias sem comprometer a qualidade de vida”.
Uma vida sem glúten
A montenegrina Vanessa Santos da Conceição, de 41 anos, compartilhou com o Ibiá sua experiência de viver com alergia ao glúten, diagnosticada no final de 2023. Ela descreve os sintomas que a levaram a buscar ajuda médica, incluindo uma sensação de inchaço após consumir o famoso pão cacetinho e uma exacerbação de alergia nas mãos. “Quando comia cacetinho, ficava estufada e minha alergia nas mãos aflorava”. A busca por respostas a levou a realizar exames de sangue, que confirmaram a alergia ao glúten.
A partir desse momento, Vanessa teve que reformular completamente sua dieta. “Foram muitas as mudanças. O pão que gostava muito de comer teve que ser substituído pelo pão sem glúten, assim como os demais alimentos que contêm glúten,” relata. Para ajudá-la nessa transição, Vanessa contou com o apoio da nutricionista Cristiane Junges, que forneceu uma lista de substituição dos alimentos.
A adaptação, no entanto, não foi fácil. “Fiquei bem frustrada, pois teria que ter minha alimentação diferente da minha família. Foi difícil sim, como toda mudança, mesmo sabendo que era para melhorar minha saúde,” confessa. Entre os alimentos que mais sente falta estão o cacetinho, pizza (especialmente em rodízios) e bolos.
Apesar dos desafios, Vanessa encontrou substitutos saborosos para muitos desses alimentos, especialmente os bolos. Contudo, comer fora de casa continua sendo uma tarefa complicada. “Essa questão é mais difícil, pois nem todos os restaurantes e/ou lancherias têm a opção de algum alimento sem glúten. Em eventos sociais, evito comer se não sei se contém ou não,” explica.
Desafios e importância do apoio familiar
Vanessa também fala sobre os desafios diários, como ir ao supermercado. “A maioria não tem uma gôndola de produtos sem glúten, então tenho que ficar lendo os rótulos para não comprar o produto errado, e o valor desses produtos também é mais caro. Sair para uma confraternização também é complicado, pois geralmente não sei o que será servido.”
Felizmente, Vanessa recebe apoio significativo de amigos e familiares. “Sempre procuram fazer alguma coisa que eu possa comer,” disse. Ela também compartilhou que a alergia ao glúten teve um impacto positivo em sua saúde geral. “Percebo muita diferença, principalmente na relação da minha saúde como a alergia em minhas mãos, que ficaram quase curadas. Minha pele melhorou bastante e sinto mais disposição para o dia a dia.”
Ainda assim, a jornada de Vanessa teve seus momentos difíceis. “Quando descobri a intolerância ao glúten, fiquei bem chateada, pois já possuo outras restrições alimentares. Pensei logo de imediato: vou comer o quê? Só saladas e legumes? Mesmo assim, após o diagnóstico, insisti em comer pães, massas, bolachas, e minha alergia nas mãos aparecia de uma hora para a outra. Foi aí que percebi que precisava cuidar da minha saúde através da minha alimentação.”
A história de Vanessa é um testemunho da resiliência e da capacidade de adaptação diante de desafios significativos. Sua jornada destaca a importância de um diagnóstico preciso, apoio profissional e comunitário, e a força de vontade para implementar mudanças necessárias para uma vida mais saudável e equilibrada.