O historiador inglês Eric Hobsbawm escreveu o livro “Era dos Extremos”, que conta a história do século passado, um período que inicia com a Primeira Guerra Mundial, em 1914, e termina com a dissolução da União Soviética, em 1991. Os extremos colidiram em duas grandes guerras; assim, os cidadãos do planeta ficaram a mercê de três ideologias rivais: capitalismo, comunismo e nazifascismo. Hoje, vivemos o resultado de tudo isso.
Por sua vez, Estados Unidos, União Soviética e Alemanha, países que lideraram esses conflitos, tinham a pretensão de dominar o mundo e as respectivas ideologias eram os projetos que pretendiam implantar globalmente. A partir de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, capitalistas e comunistas se aliaram contra o nazismo. O poderio das duas grandes potências, Estados Unidos e União Soviética, derrotou os chamados países do Eixo, e o mundo se viu livre do nazifascismo. Quando os países vitoriosos entraram na Alemanha e territórios ocupados por ela e viram as atrocidades do Holocausto, comprovou-se a necessidade de tal aliança. Trabalhos forçados, tortura e extermínio de seres humanos em massa demonstraram para o mundo a face mais perversa das ideologias do século XX.
Com o fim da guerra, iniciou-se imediatamente outra disputa pelo controle do mundo: capitalistas e comunistas seguiram disputando, na chamada guerra fria, um conflito não declarado, mas tão mortal quando qualquer outro. O resultado foi a vitória do capitalismo e, com ele, vivemos sob a hegemonia dos Estados Unidos da América até hoje. Hobsbawm publicou em seu livro uma peça publicitária bastante reveladora desse processo: as imagens de Hitler, Lênin, Júlio César, Napoleão e Hirohito ao lado de uma garrafa de Coca-cola com a frase: “Apenas um lançou uma campanha que conquistou o mundo!”, explicitando as pretensões de conquista mundial pelo capitalismo.
No entanto, no Brasil atual, vemos discursos remontarem o mundo do século XX. O atual governo revive anacronicamente a polarização da guerra fria, forçando uma ideia de que o comunismo é um perigo iminente. De fato, temos partidos comunistas e socialistas no Brasil, mas posso afirmar que nunca, nem mesmo nos anos 1960, o comunismo esteve perto de ser uma realidade em nosso país. Mas, é claro, reviver este discurso significa retomar as mesmas velhas intenções de perseguir adversários políticos: jornalistas, professores, artistas e cientistas são alvos, mais uma vez, de uma política que parece renascer os cenários do século passado.
O atual governo brasileiro é autodeclarado de direita e construiu uma retórica bastante acolhedora para as velhas ideologias autoritárias, violentas, racistas e, visivelmente, flerta com elas. Recentemente, a fala do secretário da Cultura, divulgando ideais nazistas e propondo-os como política pública para a cultura no Brasil (apesar da sua demissão) denota como o atual governo está no limiar do extremo. No entanto, tudo isso é apenas o pano de fundo de uma política ultraliberal que irá acabar com os direitos que foram conquistados pelo povo a duras penas!