O papagaio e o pirata

Nunca consegui descobrir porque a ficção, de repente, passou a associar papagaios à figura dos piratas. A ponto da expressão “papagaio de pirata” se tornar o símbolo daquele punhado de cabeças penduradas em autoridades ou celebridades em qualquer evento público. Cabeças que se digladiam, diga-se de passagem, desesperadas, apenas para aparecer sorrindo na foto. Claro, coincidência essas autoridadesterem poder de nomeação de cargos de confiança, funções gratificadas e assemelhados. Pura coincidência. Talvez seja isso, já que o pirata dava migalhas ao seu papagaio que ficava ali, refém dessa esmola por pura comodidade. Os papagaios eram assim tão incompetentes, que precisavam se pendurar no sujeito em troca de migalhas? Será. A natureza é mais sábia do que isso. Ainda que existam as sanguessugas, também muito vistas proliferando em ambientes de poder.
Não sei como começou essa história do papagaio de pirata, verdade. Mas eu sei como começou a pirataria no mundo. E as papagaiadas. Aliás, trapalhadas e guerra inúteis, que compõem a estupidez da nossa estimada racionalidade humana, ocorrem desde que o mundo é mundo, isso é verdade. Como também é verdade que nós, brasileiros, estamos nos tornando um referencial planetário e histórico das bizarrices. Há até quem já cogite mudar o nome de Brasil para República Semidemocrática da Bizarréia. Não duvidem. Se é inútil, ou absurdo, pode virar lei. Basta acontecer cá neste país.
Ano passado, o malfeitor conhecido como Papagaio foi preso outra vez. Quantas, no total? Cinco? Seis? Mais? Conheço um ladrãozinho, desses que atormentam a paz da vizinhança furtando até galocha de operário e que nosso sistema penal considera inofensivo, que já foi preso mais de cinquenta vezes. Mas ele só rouba pra fumar pedra e isso não é nada, diz a lei. Azar de quem trabalha e compra as coisas que ele vai roubar. Não podemos é lotar os presídios! Tá, mas e o Senhor Papagaio, com seus ataques cinematográficos? Explosões, caminhões incendiados, reféns pra todo lado, um exército de bandidos com armas de guerra derrubando carros-fortes e muros de presídio? Por quê fica solto?
O cara é preso. Aí vem novas fugas, grandes ataques, alto risco à população e um trabalho policial imenso para a sua recaptura. Qual o castigo exemplar que ele receberá? Progressão de regime. Pouco tempo depois, ele já ganhará uma liberdade por qualquer justificativa e, ora bolas, como a coisa anda braba, feia mesmo, voltará a cometer seus crimes. E a perambular entre explosivos e fuzis. Se o sistema acreditava na sua redenção, já foi provado e reprovado que a vida dele é esta. O que há, então? Ingenuidade ou outra coisa? Agora até mandado de prisão será suspenso por falta de vaga em presídio. Que tal? Como um jovem brasileiro pode se motivar a seguir o que é correto, se o seu país não consegue largar o péssimo vício de facilitar a vida só de seus maiores criminosos, de fuzil ou de gravata? Complicado. E essa papagaiada toda é legal. Tá na lei. Agora, se a lei é pirataria pura, bom, sabemos quem as fez assim. E quem entrega o leme, banca o navio e dita a navegação ainda somos nós. Deveria ser, pelo menos. Mas se preferimos acreditar nasbobagens dos piratas da internet enquanto o barco afunda… Paciência.

Últimas Notícias

Destaques