Três crianças ficaram sem seu jovem pai, esta semana. Duas delas, é bom dizer, são gêmeos prestes a nascer e não terão o direito de conhecer seu pai. Outro brasileiro morto por bandidos. Acontece todos os dias, neste país que extermina 60 mil cidadãos por ano em assassinatos. Foi num assalto à excursão de gaúchos que iriam a São Paulo fazer compras e, no Paraná, foram atacados por um bando fortemente armado, que não hesitou em torturar as vítimas, nem em atirar pra matar. Um dos seguranças morto, outro ferido. Este jovem pai, alguém dirá, escolheu o perigo ao se tornar segurança particular. Não. O Brasil é um imenso território de muitas riquezas e poucas oportunidades. Anda cada vez mais difícil arranjar um emprego e sustentar a família com o mínimo de decência. O país vai mal há horas. E a insegurança e o medo são, infelizmente, um negócio.
Eu aposto o que for que, no momento em que a polícia puser as mãos nestes assassinos, se descobrirá que eles têm imenso currículo criminal. Que são bandidos de carreira, já foram presos, talvez por crimes tão odiosos quanto. É o que mais acontece. Criminosos de carreira, acostumados a cometer suas violências contra o suado, e às vezes pequeno, patrimônio alheio, livres por aí. Gente que escolhe o crime porque parece valer a pena. Porque enquanto um operário, um comerciante ou um estudante se esgualepa para juntar uns trocados e conquistar algo na vida, e a qualquer vacilo, no não pagamento de taxas ou impostos, sente a mão pesada do sistema, parece que tudo continua paradisíaco para bandidos. Tudo os favorece. E não estou aqui incitando discurso de ódio, não creio que ódio resolva algo. Mas amar e respeitar a cidadania e a liberdade também é termos certeza de que leis são de verdade. Elas e suas sanções.
Um dos assassinos do menino João Hélio – aquele que bandidos arrastaram no asfalto até matar, no Rio de Janeiro, com a pobre criança amarrada no cinto de segurança do carro de seus pais, roubado por eles – já está solto. E este crime hediondo foi ali, em 2007. A condenação em 2008. Não ficou 12 anos preso dos 39 da condenação. Pra quê essa condenação de mentirinha? O que vai fazer na rua esse bandido, agora pós-graduado no crime e com muito mais contatos? Um crime grave, que chocou o país, imagine a impunidade que permeia os assassinos dos outros 60 mil brasileiros. E os ladrões de toda sorte. Uma pena. Temos leis. Mas temos um sistema de persecução penal desintegrado e desconectado da realidade. Entra governo, sai governo, entra Congresso, sai Congresso, segue o incentivo à criminalidade. O alimento à violência e à insegurança. O medo leva a mais empregos urgentes na segurança privada. A consequência disto? Lastimável.