Ficamos órfãos da Dona Hermínia a quatro dias do Dia das Mães. Personagem do comediante Paulo Gustavo, seu maior sucesso, encantou e fez rir milhões de brasileiros. Na verdade, foi a maior bilheteria em toda a história brasileira no cinema.
Dona Hermínia era igual a todas as mães. Quem não se identificou com seu excesso de cuidados com os filhos? “Leva o casaco, vai esfriar”. “Para de comer, vai engordar”. “Tu só come porcaria.” Enxergamos as nossas próprias mães no personagem caricato que o Paulo encarnou com perfeição.
O sucesso que ele teve com a peça de teatro e depois com filmes foi motivado por uma simples lógica: o objetivo não foi o humor pra pensar ou entender. Buscou o riso no tradicional, nas coisas do dia a dia, na comédia leve e solta. Para os críticos, era um humor popular demais, com bordão demais. Para nós, nada disso importava, porque Dona Hermínia falava diretamente com um afeto íntimo que vivenciamos com as nossas mães. Com isso conseguia ser uma trégua de alegria num mundo que não consegue mais se enxergar ou conversar.
Em entrevista, Paulo Gustavo revelou que muitas coisas no ‘Minha Mãe É uma Peça’ na vida real não foram engraçadas. Mesmo assim, ele transformou em comédia. “Dona Hermínia é uma personagem muito sozinha. Minha mãe foi uma mulher sozinha durante um tempo, porque eu e minha irmã morávamos com o meu pai, ela trabalhava. Muita coisa dela na peça que é engraçado, na vida real era triste e difícil”. Reproduzi esta fala dele porque mostra de maneira clara como este grande comediante soube nos fazer dar risadas com a sua realidade.
A experiência de riso compartilhado é um dos momentos de convergência humana. É o momento que nossos problemas e preocupações ficam escondidos, dando lugar ao riso fácil e, dizem os especialistas, a serotonina e a endorfina tomam conta do nosso corpo com a tão falada sensação de bem estar. Simplificando, são os segundos que relaxamos. Era isso que Paulo Gustavo fazia com a gente. O humorista dizia que a Dona Hermínia mudou a sua vida para sempre. Quando interpretava a personagem, olhava o bob no cabelo, a roupa, tudo isso mexia com a sua cabeça. A mãe dele e nossa no cinema era um tema sagrado.
Lembro quando lançaram o filme “Minha Mãe é uma Peça 2”, pensei que não seria tão bom quanto o primeiro. Minhas risadas provaram que eu estava errada. Ele conseguiu se superar e trazer uma nova Dona Hermínia, que não era tão nova assim e, por isso, fez ainda mais sucesso que o primeiro.
Diz um ditado que precisamos rir das próprias desgraças e falhas para ser feliz. Acho que isso explica a paixão que todos temos por Dona Hermínia. Ela nos fez gargalhar dos nossos próprios tombos, das nossas falhas. Enxergávamos nela a nossa vida, com todos os percalços e alegrias. Vivemos tempos difíceis, estamos tristes, magoados. Pela pandemia, pelas vítimas da Covid e, nesta semana, pelas professoras Keli e Mirla e as crianças Sarah, Anna e Murilo, mortos no covarde ataque de um jovem em Saudades/SC.
Estamos chorando pelo Paulo, pela Dona Hermínia, pelos nossos familiares, pelos amigos e tantos conhecidos que nos deixaram. Vão nos fazer faltar. Só a fé e a esperança podem nos fazer sorrir novamente. Então, nos espelhemos na força da Dona Hermínia e bola pra frente.