Os maus exemplos

Depois de ser detido mais uma vez por porte ilegal de drogas e liberado, o funkeiro Guilherme Aparecido Dantas, que atende pelo nome artístico de MC Guimê, deixou um aviso em seu perfil nas redes sociais: “Só Deus pode me julgar”. Eu não tinha nada contra o funk e nem mesmo contra o tatuado artista, apesar de seu absoluto desprezo pela concordância verbal, mas agora tenho. Quando parte de uma pessoa que deveria se comportar como um modelo para milhares de brasileiros pobres que sonham com uma vida melhor, essa declaração é absurda. MC Guimê pode até ser um bom músico, mas, como ser humano, precisa evoluir muito para ser digno da idolatria que desperta.
Todos sabem que grande parte dos homicídios que ocorrem no Brasil possui alguma relação com o tráfico. A venda de drogas é tão lucrativa que compra policiais, juízes, promotores, jornalistas e políticos. Diariamente, centenas de pessoas são dizimadas nessa guerra porque, diferente de playboys como MC Guimê, muitos acham – e com razão – que as drogas matam e precisam ser combatidas. Médicos e cientistas do mundo todo, após pesquisas e estudos sérios, comprovaram o dano irreversível que os entorpecentes causam à saúde.
Infelizmente, a história está cheia de ídolos com pés de barro, que poderiam ter sido exemplos para motivar crianças e adultos a construírem um futuro digno e próspero, enfrentando e vencendo desafios. Quem não lembra das cantoras Amy Winehouse e Whitney Houston definhando diante das câmeras, consumidas por drogas lícitas e ilícitas? Das mortes de Elvis Presley, Marilyn Monroe e Elis Regina por overdose? Ou dos atores Heath Ledger e River Phoenix, com toda uma bem sucedida carreira pela frente, entre tantos outros que partiram jovens?
Quando uma pessoa comum se vicia, normalmente prejudica apenas a si mesma e aos que estão muito perto. Quando uma celebridade sucumbe e ainda faz disso uma forma de promoção pessoal, toda a sociedade perde. Cantores e atores, queiram ou não, são referências para os seus públicos. Quando MC Guimê é preso com drogas e não dá nada, a mensagem que seus fãs estão recebendo é a de que, com eles, também não haverá problemas. Haverá, sim! O artista tem condições de se internar numa clínica para desintoxicar quando achar que deve parar. Seus seguidores, não!
O tráfico, com suas quadrilhas de assassinos e ladrões, só existe porque há pessoas que consomem o produto que vendem. Até agora, elas têm sido tratadas como doentes pelo Estado e não precisa ser muito inteligente para perceber que não deu certo. Não há como vencer esta guerra sem mexer na lei, tornando o consumo mais restritivo e penalizando aqueles que fazem apologia às drogas. Não tem como acabar com este comércio quando babacas como MC Guimê passam para a sociedade que se “emaconhar” é normal.
Então, MC Guimê, não é só Deus que pode julgá-lo. O veredicto final será dele, mas o mal que é feito aqui deve ser pago neste plano. O senhor é, sim, culpado por mostrar aos jovens o caminho errado. Por usar sua posição e ascendência sobre adolescentes para sugerir que a droga não faz mal. Por indicar a eles uma estrada ao fim da qual só existe pobreza e morte.

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