O que nos leva a reagir tão mal quando algo não acontece exatamente na hora e da forma como desejamos? Por que o carro a nossa frente parece não sair do lugar quando o sinal abre, “obrigando-nos” a acionar a buzina? O que nos leva a reclamar quando, diante de um bifê de comida a quilo, alguém demora mais de dois segundos para fazer a difícil opção entre chuchu e brócolis? São perguntas difíceis, para as quais não existe apenas uma resposta. De fato, queremos tudo JÁ e, quando isso não é possível, a irritação se pronuncia, devorando a educação e anulando o bom senso.
A Bíblia nos traz, no Antigo Testamento, a história de Jó. De acordo com as escrituras, ele era uma das pessoas mais ricas do Oriente. Temente a Deus, seu patrimônio incluía várias propriedades, 7 mil ovelhas, 3 mil camelos, 500 juntas de bois e 500 jumentos. Jó também tinha 10 filhos, sete homens e três mulheres, todos fortes, robustos e felizes. Certo dia, o diabo resolveu desafiar a Deus, sugerindo que Jó somente praticava os dez mandamentos porque era bem sucedido. O “coisa ruim” garantiu que, se ele perdesse todas as suas riquezas, deixaria de orar e abandonaria sua fé.
Deus pagou para ver e permitiu que o capeta interferisse na vida do seu fiel servo. Numa tacada, o fogo consumiu as plantações de Jó e ele perdeu todos os seus animais. Mal se foram as riquezas e todos os seus filhos, um a um, morreram por obra de Satanás. Mesmo assim, Jó permanecia fiel e, quando era provocado, respondia mansamente que “Deus dá e Deus tira”. Vendo que naquele coração não havia espaço para o pecado, o diabo tentou sua última cartada: cobriu o corpo de Jó com feridas fétidas e purulentas, que provocavam dores impressionantes e faziam todos quererem fugir de sua presença. Mesmo assim, ele se manteve fiel a Deus, que, tendo vencido o desafio, devolveu-lhe, em dobro, tudo que perdera, incluindo mais dez filhos. É nessa história que se baseia a expressão “paciência de Jó”.
Na mitologia grega, a melhor representação da paciência é fornecida por Penélope, a linda esposa de Odisseu, ou Ulisses. A história começa quando o tonto príncipe Paris, de Tróia, apaixona-se por Helena, esposa de Menelau, “o maior dos espartanos”. Os pombinhos fogem e o marido traído organiza um exército para se vingar. Entre os comandantes da expedição, está Ulisses, rei de Ítaca. Quando a guerra termina, dez anos depois de iniciada, ele tenta voltar para casa, mas uma tempestade provocada pela ira dos deuses o afasta de seu rumo. O herói então passa a enfrentar uma série de desafios, que incluem monstros e fantasmas. A aventura está na Odisseia, de Homero.
Em casa, Penélope é assediada por vários pretendentes, interessados no trono de Ítaca e em se refestelar com sua bela rainha. Para evitar um novo casamento, a esposa de Ulisses alega que, antes, precisa tecer uma mortalha para o sogro, mas a peça demora muito a ficar pronta, pois o que era feito de dia, aos olhos de todos, ela desmanchava de noite. Quando o ardil foi descoberto, Penélope alegou que só se casaria com o homem que conseguisse vergar o arco do marido. O vencedor do desafio foi um pobre camponês, na verdade, Ulisses, que finalmente havia conseguido retornar, 20 anos depois da partida.
Talvez as histórias de Jó e Penélope ajudem a responder as inquietantes perguntas que abrem este texto. A escassez de paciência em nossa vida pós-moderna tem raízes na falta de valores. O materialismo, a ansiedade por viver o momento, a ideia de que precisamos correr para não perder nada são doenças. Elas se desenvolvem rapidamente em pessoas com pouca ou nenhuma fé, para quem tudo começa a termina aqui.