O Código Brasileiro de Trânsito é considerado uma das legislações mais avançadas do mundo no combate a acidentes em ruas e estradas. Não há como negar que as regras são duras e permitem não apenas a apreensão dos veículos em caso de infração, mas a prisão do condutor se ele causar a morte de alguém. Muita gente, inclusive, considera as penalidades duras demais e, volta e meia, políticos sem noção ou com interesses nebulosos investem contra o regramento. Alguns pagam para ver e simplesmente se colocam acima da lei.
Neste segundo grupo, encontra-se o bombeiro Robson Fabiano Gabriel, envolvido em um acidente que acabou na morte de uma recém-nascida em Itatiba (São Paulo), na madrugada de quarta-feira, dia 1º de janeiro. A pequena Viviane Sodré da Silva, de apenas nove dias, estava com a mãe em um carro estacionado, quando o veículo foi atingido por Robson. Os policiais que atenderam a ocorrência constataram sinais visíveis de embriaguez, como falta de equilíbrio e odor etílico no motorista. Ele estava bêbado.
O motorista foi preso em flagrante, mas acabou liberado após pagar fiança de R$ 4 mil. De acordo com o Tribunal de Justiça, a liberdade provisória foi concedida mediante o compromisso de comparecimento a todos os atos e termos do processo. Robson é cabo da Polícia Militar e atua no Corpo de Bombeiros de Campinas (SP). Em nota, a PM disse que, como o motorista não estava a trabalho, por enquanto, não será afastado de suas funções.
O acidente foi registrado por volta de 1h. A mãe, Gerlaine Sodré de Jesus, disse que saiu de casa por causa do barulho dos fogos de artifício do Ano Novo e entrou no carro estacionado na rua com a recém-nascida e a outra filha, de três anos. Ela estava amamentando a bebê quando o carro foi atingido na traseira. Com o impacto, Viviane foi lançada para frente e bateu a cabeça no para-brisa. As três foram socorridas e levadas para a Santa Casa de Itatiba. A mãe não ficou ferida, a menina de três anos sofreu uma lesão na testa e já teve alta do hospital. Viviane passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos.
Esta parece uma daquelas típicas histórias de quem está na hora e no local errados, mas não é bem assim e ninguém ouse colocar a culpa na mãe, por ter saído de dentro de casa na noite de Réveillon com duas crianças. Ela fez isso justamente para proteger as filhas, já que existem pessoas mal educadas e insensíveis que ainda usam fogos para comemorar a virada do ano, mesmo sabendo que eles prejudicam crianças, idosos e animais.
A ação da mãe foi baseada na lógica. Ela queria levar as meninas para longe do barulho ou simplesmente permanecer com elas no interior do carro, onde o isolamento acústico é muito maior do que na residência. Não tinha como prever que um soldado bombeiro, pago pela sociedade para salvar vidas, ia tomar um porre e sair pelas ruas, transformando seu carro numa arma mortal. E o mais triste disso tudo é que ele acabou liberado porque a vida da recém-nascida que ele ASSASSINOU vale apenas R$ 4 mil.
Nos últimos dias, todos têm procurado exercitar o otimismo, desejando um 2020 repleto de alegrias e esperança aos amigos, colegas e familiares. Infelizmente, já nas primeiras horas do Ano Novo, a gente constata que nada muda neste país. A irresponsabilidade de quem deveria ser um exemplo no cumprimento da lei segue matando inocentes, à sombra da impunidade comprada por algumas cédulas de papel. Se não começarmos a respeitar as leis e a valorizar a vida DE VERDADE, a contagem do tempo servirá apenas para nos mostrar o quanto estamos nos aproximando do nosso próprio fim.