Coleções

Tenho um amigo que coleciona latas de cerveja. São muitas, mais de 500, todas vazias porque ele também aprecia o conteúdo. Em seu apartamento, há duas paredes com estantes tomadas pelas embalagens e agora ele está preparando a terceira. Quando a turma soube do hobby, ficou fácil comprar presentes. O problema é que logo nosso amigo passou a tê-las repetidas. A solução foi realizar um catálogo com a lista e a foto de todas que já possui. O material foi compartilhado para que a gente só levasse raridades. Não à toa, já faz algum tempo que, nos aniversários, ele voltou a ganhar meias e chinelos.

Os colecionadores estão por toda a parte. Selos, discos, CDs, livros, obras de arte, antiguidades, carrinhos, gravatas… para quem tem dinheiro, o céu é o limite. Quando eu era criança, em cada caixinha da marca de fósforos Paraná vinha a imagem de uma ave colorida. Acho que eram 24 ao todo. Sempre que o produto chegava em casa com as compras do supermercado, ficava de olho. Quando restavam apenas alguns palitos, eu os colocava junto com os de outra embalagem e guardava a caixinha.

Mais tarde, a Nestle lançou os chocolates Surpresa. Junto a uma milimétrica camada do doce, vinha uma cartela com fotos de animais de diferentes partes do mundo. A proposta da indústria era que a gurizada gastasse na compra para guardar as figuras e, obviamente, deu certo. Fabricantes de chiclete fizeram o mesmo e essa doçura toda condenou muita gente a horas e horas na cadeira do dentista para se livrar das cáries.

Dizem que o ato de colecionar é tão antigo quanto o próprio homem. Descobertas arqueológicas apontam que nossos ancestrais guardavam crânios, dentes e ossos de seus inimigos como triunfos de guerra e como uma maneira de afirmarem sua valentia. Há também explicações razoáveis no campo da Psicologia, sugerindo que se trata de uma manifestação de controle e até mesmo de fuga para um mundo paralelo. Talvez seja tudo isso… ou nada. Quem sabe, apenas uma forma de ter, perto de si, aquilo que dá prazer.

Cada caso é um caso, mas me parece difícil explicar, por exemplo, por que alguém paga o equivalente a R$ 102 mil para ser dono do vaso sanitário usado pelo ditador nazista Adolf Hitler em seu esconderijo nos Alpes. A relíquia bizarra atraiu uma sucessão de lances de compradores anônimos e milionários durante a venda, nos Estados Unidos, ocorrida na última segunda (08). A peça de madeira branca foi levada pelo soldado norte-americano Ragnvald Borch, um dos primeiros a entrar em Berghof, um dos quartéis-generais mais conhecidos do ditador, localizado na Baviera. O assento ficou intocado no porão de Borch por décadas e agora foi vendido pelo filho dele. A “patente” foi saudada como “única” pela Alexander Auctions, uma casa de leilões especializada em itens militares históricos.

Não sei vocês, mas eu, quando uso o instrumento, aproveito para organizar mentalmente as tarefas do dia. O que será que Hitler imaginava enquanto estava em seu “trono”? Possuir um objeto que pertenceu a dos maiores assassinos da História ou ao seu séquito, pasmem, é um sonho de muitos colecionadores. Inclusive, nestes tempos de negação do holocausto judeu e de idolatria ao nazismo que germina como erva daninha na “neo extrema-direita”, seu valor se multiplicou. Ser o dono do vaso do Führer, para mim, só teria valor se eu pudesse usá-lo para dar a descarga em suas ideias assassinas.

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