Moinho

Dia destes, escutei alguém dizer “me sinto moído”. Poucos minutos depois, outra pessoa me dá bom dia, respirafundo e diz: “Nossa, hoje eu estou moída”.
Até aí, tudo certo, afinal, a ciência já comprovou que dois raios podem cair no mesmo lugar.
Passado algum tempo, vou à minha mesa e pego um livro.Dou sequência à leitura que havia iniciado no dia anterior. Na primeira frase que leio, está escrito: “A vida é um moinho: ela vai triturar seus sonhos.”
Me perguntei o que significaria aquilo, afinal? Lembrei do ditado que diz que “um é pouco, dois é bom…”. Pensei até em alterá-lo para algo do tipo: “Um, a gente nem dá bola. Dois, a gente desconfia. Três, isto está querendo dizer alguma coisa. ”Ou não! Mas, “por via das dúvidas”, não custava “dar uma pensada”.
Acaso, coincidência ou sincronicidade? Seja lá o que tenha acontecido, a imagem de um antigo moinho não saía mais dos meus pensamentos. Não aqueles de Cervantes, com enormes pás de vento, que animavam os duelos de Dom Quixote. Era a de um moinho tocado por uma roda d’água.
Frente à constatação tão forte de que a vida seria triturada, não resta alternativa. Eu precisava de respostas e o livro não as oferecia. Foi quando percebi que ela estava na imagem que “não saía da minha cabeça”: o moinho!
Transformar sem perder a essência. Tudo aquilo que se transforma se torna mais fácil de ser digerido, utilizado, transportado e guardado. Vale para moinhos, vale para a vida.
A experiência de um moinho passava, obrigatoriamente, pela mó (a grande pedra movida pela roda d’água e que moía os cereais). Daí as sensações de “estar moído”: este é o pesado processo que a vida impõe. A dureza do trabalho, a dor inexplicável de uma perda, o inatingível. O grão “in natura” é limitado. Então, “o moinho da vida” vai encontrar uma forma de triturar o que não está “pronto”.
É bom lembrar que mundo emocional não é uma loja de conveniências, na qual tudo está ao alcance das mãos. A “geração supermercado” tende a esperar que tudo seja facilmente alcançado nas “prateleiras da vida”. Nada mais fantasioso.
A água (nossas emoções) é um elemento essencial neste processo. E ela precisa estar em movimento (o sobe e desce da vida). No movimento que a roda gira.
Outro ditado diz que “águas passadas não movem moinhos”. No entanto, se passou, cumpriu sua parte, entregou energia à roda. Então, está livre para seguir seu curso e, quem sabe, voltar renovada. Ela só não pode parar.
Alma parada não anima. Água parada não move moinho.
Paz e bem!

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