Gostamos de comemorar acontecimentos raros em nosso dia a dia. Uma caça bem sucedida para uma tribo, ou a colheita para uma comunidade, é motivo de festa. Até mesmo a chuva, depois de grande estiagem, é recebida com alegria. O avanço da civilização não mudou nosso impulso de celebrar certos eventos da vida, apenas os deixou mais complexos.
Tudo começa pela cabeça. A decisão, o pedido, a aceitação. Passado isso, a mente então se ocupa de todos os detalhes do cerimonial. Data e local, convites e convidados. O planejamento segue entre cardápio e decoração, roupas e ensaios, música e fotografia. O bolo branco e os docinhos que não podem faltar. A perfeição é perseguida de perto. O evento deve ser único, assim como a decisão que o gerou.
Um frio na barriga vai se intensificando conforme o grande dia vem chegando. As tarefas ganham volume; alguns imprevistos aparecem, mas nada que não possa ser resolvido a tempo. Haja estômago. Chegado o dia, a gravata sufoca aqueles que não têm intimidade com ela. Faz parte do ritual, assim como os vestidos longos e a maquiagem espessa. As roupas refletem a pompa da ocasião. Não interessa o que usam no dia a dia; para esse evento, os trajes são sempre os mesmos, tanto que há lojas de aluguel especializadas nisso. Elas têm o seu dia de “Ladys”; eles, de bancar os deputados.
Envoltos em emoções, os participantes ficam mais propícios a cair no choro, a menos que consigam engoli-lo, para não comprometer a maquiagem. Pode ser antes das portas da igreja se abrirem, ou depois de algum agradecimento especial; mas especial mesmo, daqueles raros que só em poucas oportunidades da vida são ditos, porque cremos que algumas verdades estão subentendidas. Nessa hora, no mínimo, se sua pelos olhos.
Casamento é uma sucessão de nós. Nó na cabeça, nó no estômago, nó na gravata, nó na garganta. Eis os percalços pelos quais um casal – e suas famílias – resolve passar para mostrar a sociedade sua decisão. Num mundo líquido, onde os relacionamentos facilmente escorrem pelo ralo, a convicção em se unirem deve ser comemorada à altura. É um rito de passagem, e, portanto, passível de celebração. Vai ver, é nisso que se resume um casório: na série de apertos com o propósito de firmar os laços matrimoniais; com um nó, bem forte, de preferência cego.