“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam.” Arnold Toynbee
Dizem que a arte imita a vida; nesse caso, não sei se a votação no congresso foi comédia ou tragédia. Infelizmente, não foi ficção. Fazer com que a maioria dos deputados ficasse do lado de alguém comprovadamente envolvido em corrupção, exige familiaridade com o tabuleiro por onde se movimentam as peças do poder, bem como as regras que as direcionam. Isso é básico para qualquer jogador que se preze.
Antes de começar um jogo de canastra, é normal os jogadores definirem quais regras vão adotar. Isso porque elas podem mudar de acordo com a região. Por exemplo, aqui só vale trincas de reis e ases, mas em outros lugares vale também trinca de três, cinco, etc. Portanto, definir regras como “coringa tranca a mesa?”, “carta colocada leva?”, “um ou dois coringas por jogo?” faz parte do ritual. Importante observar que durante esses acertos, cada qual vai sugerir que sejam usadas as regras com as quais está mais familiarizado. Isso porque ele já tem a sua estratégia de jogo.
Sendo assim, é lógico que ninguém vai sugerir jogar com trinca de cinco valendo, numa mesa onde nenhum dos jogadores está acostumado com essa regra.
O mesmo vale para o jogo político. Os excelentíssimos senhores jogadores – quero dizer, políticos – já tem as suas estratégias bem definidas de como se manter no poder com as atuais regras. Sendo assim, qual a motivação deles em mudá-las? Difícil imaginar que vão penalizar com mais severidade, por exemplo, o uso de caixa dois, se essa prática está difundida, pelo visto, entre todos. Sem contar no toma lá dá cá: Um patrocínio de campanha por uma lei benevolente; uma propina por um contrato de obra superfaturado; um partido aliado por dois ministérios; um voto favorável por uma turbinada na emenda parlamentar, com tatuagem de brinde…
Ou eu estou enganado, ou estão aqueles que acham que apenas trocando algumas cartas vão mudar o jogo. Não adianta ficar na dúvida entre usar um dois de paus ou copas numa canastra de espada; ela será suja de qualquer jeito. O pessoal tá achando que “diretas já” vai revolver. Nós colocamos aquelas figuras lá, e não há nada que garanta que se escolhermos de novo, iremos fazer melhor. São as regras que devem mudar; e isso depende de nova constituinte. Acreditar em salvadores da pátria, enquanto se mantém na ignorância política é o mesmo que crer em Papai Noel só pra não comprar presentes para as crianças.
Quem dá as cartas na política não vai abrir mão do poder a troco de nada. Cabe a nós entendermos que também fazemos parte desse jogo; e como tal, discutir se as regras satisfazem nossos interesses. Caso contrário, nunca seremos mais do que cartas fora do baralho.