E agora?

E agora, José? / A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José?

Eis os primeiros versos do poema “José” de Carlos Drummond de Andrade. A poesia sempre desafia o leitor a adivinhar sobre o que o poeta está escrevendo. Nesse caso, parece se tratar da dúvida referente ao que fazer depois que algo acaba.

Após uma semana onde a TV esteve repleta de vídeos com engravatados jogando você-sabe-o-quê no ventilador; deixando escancarada o quão sujas podem ser as relações entre os poderes político e econômico; resta-nos um gosto de fim de festa. Isso não deveria nos espantar, pois sempre soubemos que a política estava tomada pela corrupção.

Minha teoria é que nossa percepção sobre a existência da corrupção era idêntica a, por exemplo, a certeza de alguém que engordou. A pessoa nota todos os sinais de ganho de peso: balança indicando um número maior, as roupas apertando e o reflexo no espelho ocupando mais espaço. Mesmo assim, se alguém disser isso pra ela; no mínimo, ficará chateada. No fundo, temos esperança de que nossas avaliações negativas sobre algo estejam erradas.

Os gordinhos esperam mesmo é que lhes digam: – Capaz; isso são músculos em repouso! Queríamos que ninguém confirmasse a corrupção, mas foi justamente isso que o velho Odebrecht fez ao afirmar que o vínculo da empreiteira com os políticos é na base da propina há, pelo menos, 30 anos.

E agora, leitor? Qual a sua opinião sobre o que deve ser feito para mudar isso? A Lava-Jato tem se mostrado eficiente para expor a sujeira, mas será que ela vai conseguir limpá-la? Já passou da hora de pararmos pra pensar em qual rumo devemos dar a esse país. Opções surgem de todos os lados.

Desde defensores da volta de antigos regimes, como ditadura militar, monarquia ou uma teocracia quase medieval; até o liberalismo econômico, chegando ao limite da extinção do Estado. Entendam que são opções defendidas, mas isso não quer dizer que devemos tomar partido de alguma. Creio que o mais importante seja a participação de todos no debate, pois a solução ideal talvez não seja nenhuma das citadas acima. Talvez essa solução ideal nem exista.

Seja como for, não dá mais para deixarmos o país nas mãos dos outros, achando que esses irão cuidar dos nossos interesses. Como vimos, muitos só cuidam dos seus próprios. Fugir do país não é uma opção. Se fazer de cego, surdo e louco não é uma opção. Procurar um salvador da pátria e lhe entregar o poder de bandeja não é uma opção. Temos inúmeros caminhos a nossa frente para escolher. Qual o melhor? Vamos discutir. Devemos seguir em frente, como o final do poema de Drummond.

Sozinho no escuro / qual bicho-do-mato, / sem teogonia,/ sem parede nua / para se encostar, / sem cavalo preto / que fuja a galope, / você marcha, José! / José, para onde?

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