-Espelho, espelho meu. Tem alguém mais bela do que eu?
-Você, minha rainha, é a mais bela aqui. Mas Branca de Neve é a mais bela que há por aí.
– O quê? Ela ainda não morreu?
– Os anões a acolheram.
– Como essa menina pode ter tanta sorte? Mas vou pensar em algo que ponha fim definitivamente nessa danada…
– Permissão para falar?
– O que disse?
– Sabe como é, minha rainha. Eu fico aqui, observando tudo, mas só posso falar quando perguntado. E vossa majestade sempre pergunta o mesmo. Acho que poderia ajudá-la a superar esse impasse.
– Hum. O que você sugere?
– Esqueça a Branca de Neve.
– Como?! Eu quero ser a mais bela de todas e isso não será possível enquanto ela estiver viva. Você mesmo disse isso.
– Então pare de me perguntar isso. De que adianta ser bela, morando no fundo da floresta? Só aqueles sete anões a vêem. Enquanto vossa majestade frequenta as altas rodas da sociedade.
– Mas um dia ela pode voltar. Como é filha do rei, reclamará o trono.
– Minhas fontes indicam que ela está feliz morando lá.
– Não. Eu não consigo viver à sombra dessa fedelha. Preciso por um fim eu mesma. Confiei naquele caçador da primeira vez, e olha no que deu.
– O que vossa Majestade tem em mente?
– Algo que não ligasse o acontecimento a minha pessoa. Tipo um acidente com o transporte. Eles costumam viajar? Talvez a cavalo, de carroça, de barco, sei lá. Sabotamos para causar um desastre. Se houvesse um meio de transporte que voassem, era sucesso na certa.
– Eles não utilizam nenhum.
– Droga. Mas em algum momento eles saem de casa? Podemos montar uma tocaia em algum trecho por onde passarão, aí mando atirar na comitiva…
– Apenas os anões percorrem um caminho rotineiramente, da casa para as minas.
– O que você sugere então?
– Não a ataque diretamente. Apenas espalhe informações que destruam a reputação dela. Tipo, diga que ela fugiu depois de roubar os cofres públicos; ou que ela pediu asilo num reino inimigo; ou ainda, faça as pessoas imaginarem que tipo de vida devassa ela leva morando isolada com sete anões. Assim, se ela um dia resolver retomar o reino, não terá o apoio da população.
– Hum, parece bom. Talvez algum lunático sugestionável ponha um fim nela antes mesmo que volte ao trono.
– Pensando bem, melhor não. As pessoas tendem a não acreditar em atentados provocados por pessoas solitárias. Sempre desconfiarão de uma teoria da conspiração, e o povo adora quem é vítima do sistema, “os perseguidos”.
– Já chega. Vou fazer do modo tradicional. Disfarçarei-me de velha e darei a ela uma maçã envenenada.
– Majestade, como explicar uma maçã envenenada de presente?
– Colocamos a culpa nos agrotóxicos.