Salve Jorge

Andar por Montenegro atualmente tem sido um alento para a alma, um aconchego e uma sensação de casa da gente. Uma sensação que por muitos anos não tive, que fazia eu me sentir à parte e por vezes desconectada da cidade. A Sociedade Floresta (ACBFM), sempre foi o meu reduto e hoje vejo que foi literalmente meu quilombo. Fora da minha casa, talvez fosse o único lugar que eu realmente me via, me reconhecia e crescia com os meus Grios. E o que me fez sentir tão em casa, em Montenegro nesse momento? Sem sombra de dúvidas, nossa pequena revolução. Eu estava caminhando na rua e de repente vejo uma menina de aproximadamente 7 anos, negra, de cabelo crespo black gigante, indo para a escola acompanhada de seu pai.

Como sempre acontece, abri meu sorriso e fiquei estonteada, o pai percebeu, e ela nos devolve aquele sorriso típico das famílias pretas quando se encontram. Todo negro sabe, que quando chegamos em determinados lugares, a primeiro coisa que procuramos são outras pessoas negras, porque sugere estarmos mais seguros. É aquele olhar acolhedor que mesmo sem nos conhecermos, sem sabermos quem é, é uma troca ancestral. E por que esse movimento você está observando agora? Então… deixa eu te contar uma história!

Mesmo pontuando que SOMOS NEGROS O ANO TODO, preciso admitir que o mês da consciência negra é sim o marco maior da resistência. Não pelas comemorações, mas pelo significado, por abrir oportunidades de discutir com todos pautas vividas por nós. Olhar uma criança tão pequena exibir com o orgulho o seu crespo volumoso étnico, é a certeza de que nossas ações têm surtido efeito social. Em um tempo não muito distante, exibir nossos cabelos crespos era a certeza de retaliação, de sofrimento e baixa estima. Foi importante ver que ela sabia o quanto eu amei ver aquela demonstração de poder preto.

Foi importante ver a segurança daquela criança em ir para escola. Foram passos trilhados ao longo de muita dedicação da comunidade negra, dos povos pretos e de todos aqueles que reconhecem a pauta preta como uma bandeira. Talvez seja por isso que a peça de teatro Iya Dudu, interpretada pelo ator Sérgio Rosa, tenha emocionado tanto nossos educadores. A crítica ao estado em que vivemos, às perdas afetivas impulsionadas por violência racial, sem perder a sensibilidade da personagem, como só as mulheres negras sabem ser. Vimos o choro inundar a platéia, um choro de memórias, de mágoas mas também de esperança e certeza no caminho que queremos trilhar.

Recebemos Fernanda Oliveira, pedagoga do Espaço Oorum, contando que está construindo com as próprias mãos, um lugar em que a história e cultura afro-brasileira não é só preservada e sim uma forma de cuidar das pessoas dentro de uma perspectiva afrocêntrica. Fechando com chave de ouro o ano, os meus pedidos foram realizados. Nesta coluna do ano passado, falei sobre a falta de representatividade negra no natal, como presente seremos agraciados com a vinda para a nossa cidade, de Bárbara Catarina, a rainha do Kekeke, que vai contar como nasceu o Natal na África. Trazendo a ludicidade, a contribuição negra e os saberes do nosso povo. Minha erê, minha pequena inspiração, eu vi em ti o empoderamento preto, que para muitos foi difícil e hoje tu tens a liberdade de expressar. Tenho orgulho em informar que nossa pequena revolução em Montenegro está funcionando. Tenho orgulho em informar que enegrecer é bom e faz bem a todos.

Asè!

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