O que deixamos quando morreremos? E como queremos ser lembrados quando chegar a inevitável hora? As respostas podem ser variáveis, mas o óbvio é que estão inexoravelmente ligadas ao que fizemos até pararmos de respirar. A maneira como encaramos a vida e, é claro, a morte, diz muito sobre nós. Há os conformados, os indignados, os pacifistas, o que não perdem uma briga, os que choram e os que seguram as lágrimas.
“Por quem os sinos dobram” é uma das maiores obras de Ernest Hemingway e narra a vida de Robert Jordan, norte-americano que viveu na Espanha durante a guerra civil daquele país, ocorrida entre 1936 e 1939, e que acaba aderindo aos combates. Foi este livro que o pequeno John Sidney McCain III, quando criança, encontrou ao acaso na biblioteca do pai, quando queria guardar um trevo de quatro folhas que achara no jardim. Começou a ler, encantou-se e devorou o livro em poucos dias.
McCain seguiu as tradições familiares, que há pelo menos três gerações ostentavam altas patentes militares, tendo participado das grandes guerras mundiais. McCain foi para o Vietnã e acabou capturado. Ficou cinco anos sendo torturado diariamente, teve fraturas nas pernas, mas não esmoreceu. Voltou para casa e começou a carreira política. Foi senador por 30 anos e disputou a Presidência da República pelo Partido Republicano, perdendo para Barack Obama em 2008.
No ano passado, aos 80 anos, o político e veterano de guerra descobriu que ainda teria um último inimigo a enfrentar. Mas nem o câncer no cérebro lhe tirou a paz e a altivez. Falava abertamente que depois de tudo que viveu, levaria os últimos dias como o personagem do livro de Hemingway. Ainda que sem grandes perspectivas e diante do imponderável, faria o que estivesse ao seu alcance com tranquilidade e honradez.
McCain morreu em agosto. E o que uma nação a quem serviu por toda a existência lembra é da retidão moral de uma vida íntegra e aberta ao diálogo. Temos, entre os postulantes à Presidência, algum sopro de McCain?