O menino Adrian tem apenas 9 anos e precisa de cuidados especiais em função de uma paralisia cerebral. Ele mora com a mãe em Sorocaba, SP, no bairro Brigadeiro Tobias. Na semana passada, ele e a irmã Maria Alice, de 1 ano e 2 meses, amanheceram com febre alta e como de costume, a dona de casa Beatriz, mãe das crianças, procurou o posto de saúde próximo de onde moram. Só que o local estava com as portas fechadas, já que o médico foi embora, de volta para Cuba. A orientação foi de que ela procurasse então a unidade pré-hospitalar da zona leste, distante 9 quilômetros de casa. Só que para esse deslocamento, ela precisava da ajuda do marido, que saía do trabalho apenas às 18 horas.
Poucas coisas são mais dramáticas que a saúde pública no Brasil. Esperar é ruim. Muito pior, é aguardar quando se tem dor ou alguém próximo da gente sofrendo. Eu não consigo imaginar que um paciente nestas condições tenha qualquer restrição a nacionalidade, credo ou cor de quem vai atendê-lo. Só tem importância a capacidade técnica. Ora, se for cubano, alemão, brasileiros, branco, judeu, que diferença isso faz?A saída dos cubanos do “Mais Médicos” é ruim para o país não por ideologia, e, sim, por aspectos práticos. Os prefeitos estão preocupados porque não tem como arcar com o custo das reposições. E a população clama por mais consultas. Porque a dor não pode esperar, ela é impaciente por demais.
Ainda na ressaca pós eleitoral, levamos a discussão técnica sobre saúde para a politicagem ideológica. Alguns disseram que os médicos cubanos eram espiões, maus profissionais e outros duvidaram até do diploma dos forasteiros. Ora, deixem esquerda e direita fora disso. Com 8 mil médicos a menos, 24 milhões de brasileiros podem ser impactados, sobretudo no norte, nordeste e periferias mais populosas. O programa não tirou emprego de brasileiros, apenas ampliou o acesso a serviços médicos, em especial às comunidades mais distantes e mais pobres.
A história de Adrian, revelada no portal UOL, é apenas uma entra tantas outras. Não se faz saúde apenas com médicos, tampouco sem eles. Tomara que as vagas sejam preenchidas e o programa não morra de inanição. Graças a essa iniciativa, comunidades indígenas, quilombolas e milhões de outros brasileiros foram atendidos por um “doutor” pela primeira vez. Tomara que não tenha sido a última.