Sinceramente, desprezo Bolsonaro. Para mim, ele representa o atraso, a intolerância, o preconceito e o autoritarismo. Não costumo adjetivar candidatos em período eleitoral, mas neste acaso abro exceção. E o faço para defendê-lo, ou melhor, em defesa da democracia. Se aos olhos da Justiça ele reúne condições de ser candidato, não é na bala ou na faca que ele deve ser impedido. Eleição se decide na urna. E seja ela qual for, a decisão da maioria deve ser respeitada. Do contrário, nos igualamos a todos os exemplos históricos de golpes injustificáveis que ignoraram a vontade popular. Vejam o paradoxo: sustento que um defensor da ditadura possa ser eleito pelo voto. E quem disse que o Brasil é para amadores?
Esse pleito presidencial se encaminha para uma não escolha. As plataformas de governo, os projetos de nação, os planos de desenvolvimento econômico e social foram deixados em stand by, relegados a um segundo ou terceiro plano. A polarização que se desenha divide o país em extremos. Os que não votam nesse e os que rejeitam aquele. Assim, há a tendência de aumentar o índice de abstenções, votos brancos e nulos. Afinal, se essa é a eleição das rejeições, há os que repudiam a todos, manifestandoo desencanto com o sistema representativo e as opções apresentadas.
Ao final da disputa, a essa altura parece claro que os descontentes não tardarão a manifestar-se. Seja qual lado for. Sugiro prudência. Não esqueçamos das causas que levaram a tais consequências. E o quão irresponsável foi a divisão entre coxinhas e petralhas, em dois lados de uma trincheira.
Oxalá que ao final do domingo (ao que tudo indica no segundo turno) eu não me depare com lamentos virtuais do tipo “o nordeste é o câncer do Brasil” ou “brasileiro não merece votar”. Torço para que o vitorioso tenha a capacidade de aglutinar, de deixar feridas para trás e governe o país esquecendo mágoas eleitorais. E que as pessoas entendam que a democracia não pode ser seletiva, servindo quando ganha quem queremos. Ainda que o preço seja alto e os tempos difíceis, é preciso aceitar o recado das urnas. E que eles sirvam de lição, na derrota ou na vitória.