Nunca perde o hábito de observar tua própria merda. Organismo saudável e bem alimentado produz cocô marrom, cilíndrico, alongado, com cheiro típico e que afunda. O clássico que bóia, ídolo máximo e mito dos piadistas escatológicos, não é um cocô do bem. Se bóia é mais leve que a água, portanto, provavelmente está carregado de gordura, portanto, tu estás comendo muito bacon, batata frita e costela gorda, portanto, tu vais morrer. Dejeto que avisa, amigo é.
Mas não. Tu não dá atenção a eles. Simplesmente dá as costas e a descarga, sem uma despedida decente. Nem parece que saíram aí de dentro. Foram para o esgoto com todo o conhecimento. Tudo que viram no teu intestino, tudo que aprenderam, as amostras que trouxeram e o que tinham para dizer “vai se perder como lágrimas na chuva.”
É assim com tudo que é desagradável, quanto mais rápido nos livrarmos, melhor. Mendigo pedindo trocados na sinaleira? Merda! Fica verde logo para eu mandar esta visão para o esgoto.
Corrupção e bandalheira generalizada? Vou puxar a primeira cordinha amarrada ao gatilho de um depósito de discursos drásticos, líquidos e populistas pra lavar tudo logo. É tão bonito aquele redemoinho deixando a louça branca e vazia outra vez. E quando tem aquele sachê pendurado? Nossa! Até o mau cheiro foi resolvido. Pena que em breve vamos fazer merda suja de novo. Haja água, cordinha, cheirinhos e redemoinhos.
Não tem aquele ditado “Mantém teus amigos perto, os inimigos mais ainda”. Pois então: aprende com tuas glórias, com tuas cacas, mais ainda.
Hoje pela manhã, tive uma conversa com meu bolo fecal. Um dos indivíduos boiava, outro não. Ficaram ali se agredindo, se chamando de superficial e rastejante.
– Tá fazendo o quê aí no fundo? Algo a esconder? Clandestino? Sinto cheiro de falcatrua!
– Sai daí, supérfluo! Vai estudar! O saber é denso.
Puxei a descarga e promovi a igualdade, mas antes sorvi um pouco de conhecimento de cada um, do meu âmago e das consequências do que me alimento. Sei que ambos tiveram uma longa jornada, cheia de boas intenções e que deixaram um legado nutritivo. Mesmo ali, no fim, desgastados, fedidos e sofridos, tinham algo a ensinar em suas diferenças. Cagadas, quem não faz?
Alimentar-se é essencial, com dieta variada, prato colorido. Verdes, brancos, amarelos, pretos e vermelhos. Digerir o que cada um tem a dizer e contribuir para o organismo. Eliminar as toxinas, produzir com orgulho fezes de respeito. Comer a jaca e às vezes até meter o pé nela. Aliás, tu sabia que existem jaca manteiga, jaca mole e jaca dura? Até elas têm suas diferenças, e continuam jacas.
De minha parte, não desprezo nem me afundo em merda alguma. Sigo vigilante. A propósito, preciso me habituar a comer devagar e a mastigar mais.