Sou um cara de segundas, está bem, terceiras intenções. Nada especial, quem não nasce prenhe delas? Falam “segundas intenções” como se só as primeiras fossem boas e legítimas. A segunda intenção é a amante; a primeira, a esposa. Se tiver uma terceira, é a mais puta.
Às vezes destilo coisas para provocar, para tirar conceitos da zona de conforto. Ou causar desconforto na zona, se for uma intenção do tipo “terceira”. Nada como uma primeira intenção inconveniente para preparar terreno para outras.
As segundas e terceiras intenções, quando nossas, chamamos estratégia; quando contra nós, planos sórdidos. Mas quem vem ao mundo com apenas uma intenção? Quem move o primeiro peão do jogo apenas para lhe dar o prazer de visão fora da linha?
Freud, para explicar o funcionamento da nossa mente, a dividiu em ID, Ego e Superego. O ID é o animal preso no porão, cheio de instintos básicos e que quer satisfazê-los imediatamente, sem se importar com consequências. O Superego é o cara da moral e dos bons costumes, absorveu todos os conceitos sociais de regras de conduta. É o chato certinho, que inviabiliza ousadias, que prefere ficar no que disseram que é certo. Travado pelo medo do julgamento e da punição, quer impor suas regras a todos.
O famoso Ego é o político que conversa e faz o meio de campo entre esses dois radicais. É quem tem o pé na realidade e que viabiliza o convívio em sociedade sem que nos matemos ou que viremos eremitas entocados em buracos.
O Id vive no inconsciente, sendo puro instinto, é nele que nascem nossas primeiras intenções, que o Ego e o Superego acabam convertendo em segundas e terceiras.
Já teve vontade de matar um corrupto e o encontrou? Se você não está preso ou morto, significa que seu Superego está fazendo bom trabalho. Se você lhe dirigiu seu protesto com firmeza, seu Ego fez a mediação.
Em tese, o Ego é lindo, é o cara. Alguém deve ter dito isso em voz alta, ele ouviu e começou a se achar a teoria mais recheada da psique. Um ego que se ocupa mais com vaidades do que com o nobre trabalho de chicotear a fera e sacudir o intolerante acaba fazendo merda.
Quando o Ego deseja ter muitos fãs e agradar a todos, vai prender o Superego e o Id na mesma jaula e deixar que se matem, enquanto ele tira selfies e apresenta uma vida com frágil demão de verniz.
O Ego que se acha fodão e inflado de razões vai atiçar o Id nos outros só para vê-los sangrar enquanto coloca o Superego num púlpito para que ele cague regras e amaldiçoe os que não as seguem com o devido rigor.
Ainda bem que essa merda toda só acontece nas nossas mentes. Já pensou se fosse na sociedade?