Intitulada “Songs of Freedon” (canções de liberdade), a belíssima fotografia do nigeriano Michael Aboya (chega a nos fazer ouvir Bob Marley entoando o refrão da linda canção “Redemption Song”) recebeu um dos maiores prêmios da fotografia mundial o “Agora Awards” na categoria “Melhor Foto do Ano”, em outubro passado, na cidade de Barcelona, Espanha. Aos 24 anos ele é um dos principais fotógrafos africanos e as crianças retratadas na imagem são filhos de pescadores do bairro de Labaldi. Em depoimento sobre a imagem, o jovem fotógrafo declarou: “Eu acredito que quando negros e indígenas contam suas próprias histórias, elas conseguem apresentar o seu país e seu continente de maneira nova para o mundo, mostrando o amor, a paz e a harmonia, e mostrando o lado positivo um pouquinho mais à mostra, deixando a negatividade pra trás. Eu criei essa imagem para enfatizar o fato de que nós temos o poder de nos libertar de qualquer tipo de prisão mental, física, espiritual ou emocional”.
Em ensaio sobre a canção Redemption Song (Canção de Redenção), do músico jamaicano Bob Marley (1945-1981), escrita ao longo do ano do ano de 1979 e lançada em 1980 no álbum Uprising, a Professora e pesquisadora montenegrina Thaís Gaia Schüler, relaciona a constituição da identidade de Bob Marley com as teorias de Homi Bhabha (1988). Ao encontro da premiada fotografia, em seu estudo, a autora afirma que apesar do título da canção indicar redenção ou salvação como eixo central, referencia fortemente a ideia de liberdade, conforme pode ser percebido no refrão da canção que se tornou título da importante imagem.
As palavras de Bob Marley na música, para a historiadora interpretadas como referentes ao processo de escravização dos nativos africanos ocorrida entre os séculos XVI e XIX como sustentáculo à colonização da América pelos europeus, associadas à identidade do músico, permitem reconhecer que a demanda por força de trabalho na ocupação e exploração do continente americano levou os Estados Europeus do período em questão, especialmente Portugal, a desenvolverem a prática de aprisionamento e venda dos nativos africanos. Estes eram aprisionados e transportados em degradantes condições no porão dos navios negreiros até os grandes centros comerciais, onde eram expostos e comercializados, destituídos de sua própria condição humana. Nos convidando a pensar no 20 de novembro, data (na verdade em todas as datas) em que temos o dever de refletir sobre a Consciência Negra.
No livro Bob Marley: Herald of a Postcolonial World? (Celebrities, Cambridge -UK, 2007), o autor Jason Toynbee, na palavras de Thaís, apresenta uma biografia de Bob Marley, considerando-o o músico mais influente do século XX, responsável por levar ao grande público às grandes questões sociais e identitárias decorrentes do pós-colonialismo. Robson Nesta Marley nasceu na Jamaica aos seis dias de fevereiro de 1945, tendo falecido precocemente no auge de seu sucesso como ícone do reggae em Miami (EUA), em onze de maio de 1981, em decorrência de um cancro no dedo do pé ao qual o músico optou pelo não tratamento em função de sua fé religiosa.
Filho de um militar inglês branco e de uma adolescente jamaicana negra, foi criado sem a presença do pai na favela de Trenchtown (Kingston, Jamaica).Cresceu no contexto da cultura de resistência anticolonialista, ao mesmo tempo que recebeu grande influência do movimento pan-africanista Rastafári. Movimento originado entre descendentes de escravos na Jamaica na década de 1930, como uma mistura de pensamento crítico e afirmação da autoestima negra.
O movimento Rastafári proclama o último imperador da Etiópia Haile Selassie I (1892-1975), chamado de Leão de Judá, como a segunda vinda do Messias bíblico ou como a representação de Jeová na Terra e propõe, segundo a estudiosa Thaís, uma reaproximação dos modos de vida dos negros com sua origem africana ligada à natureza e desvinculada da aculturação imposta pelo tráfico negreiro e pelo sistema colonial.
De forma prática, o movimento Rastafári traz proposições de clara diferenciação com relação à cultura ocidental de seu período: conclama hábitos alimentares vinculados ao consumo de alimentos puros, majoritariamente de origem vegetal, sem consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo; o uso ritual de ervas psicoativas (como as do gênero Cannabis); a não utilização de medicamentos que não sejam naturais; o uso dos cabelos sem corte e sem pentear (formando dreadlocks).
Implicada em um desejo tocante à alteridade e à empatia,o que se entrelaça entre a imagem campeã deste ano e a obra do genial músico é que o teórico Bhabha (1988) aponta como modo de apropriação e de resistência, ainda que como ato involuntário, onde a própria enunciação traz em si fragmentos do discurso do outro, carregado de subjetividade.
A identificação entre o título da obra e a alegria que traz a imagem do menino com o violino cercado por seus amigos, ou seus pares, como preferir, com os braços erguidos em sinal de alerta,evoca a produção de uma imagem de identidade acompanhada simultaneamente pela tentativa de transformar o sujeito, e assim a todos nós.
Olhares:
Empreender: A unidade da UNIP/Universidade Paulista da nossa cidade, recebeu convidados na quarta-feira, dia 13, para o lançamento do curso de Graduação em Empreendedorismo. O evento contou com palestra do gestor Henrique Carvalho Kuhn, da Tanac.
Bem Vinda Laura: Primogênita da Karin Lugtenburg e do Rafael Bonacina, a Laura veio ao mundo no último sábado, dia 16.
O Vestir e a Cidade:
Em 1978, Jussara Lothammer, que colaborou com a foto de seu acervo, nos seus 15 anos.
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