Após mais de quarenta anos de discussões e anseios, o município finalmente dá o passo fundamental para reconhecer, valorizar e, consequentemente, preservar os bens que contam sua história e definem sua identidade.
Historicamente, muitas cidades convivem com um conhecimento empírico sobre seus bens de valor cultural, mas poucas avançam para um levantamento técnico e formal. Essa lacuna, que por décadas persistiu em Montenegro, começa a ser preenchida. O projeto “Vozes da Cidade” não é apenas uma lista de prédios antigos; é um mergulho profundo na alma da comunidade, buscando compreender o que a torna única através de suas edificações.
O inventário, conduzido por uma equipe especializada, será um processo meticuloso. Ele envolve a contextualização histórica, uma varredura atenta da área urbana e análises técnicas detalhadas, culminando na produção de fichas individuais para cada imóvel de relevância. É crucial entender que este trabalho inicial não implica em tombamento automático, mas sim na base para futuras legislações e políticas públicas. É, como bem sintetizado pelos técnicos, a premissa de “conhecer para poder preservar”.
Sem esse conhecimento formal, a preservação permanece à mercê da intuição e da boa vontade, e não de um planejamento estratégico.
Um dos pontos mais promissores dessa iniciativa é a valorização do componente humano e afetivo do patrimônio. Ao abrir um canal de participação popular, a gestão municipal reconhece que a memória de uma cidade é construída por seus habitantes. Histórias, lembranças e percepções da comunidade são tão cruciais quanto os critérios técnicos. Isso transforma o projeto de um mero levantamento burocrático em um esforço colaborativo, onde a história de Montenegro é contada e recontada por quem a vive e a ama.
A expectativa é que, com esse inventário, seja possível não apenas identificar e proteger os imóveis, mas também criar mecanismos de incentivo para que proprietários possam manter seus bens conservados.
Quantas edificações com valor histórico temos visto ruir ou serem abandonadas por falta de um plano e de apoio? Este projeto representa a esperança de revalorizar essas estruturas e, com elas, a narrativa da cidade.
Agora, a responsabilidade recai sobre a capacidade de transformar este levantamento em ações concretas. É tempo de Montenegro, munida de um conhecimento aprofundado sobre si mesma, garantir que seu passado seja um alicerce sólido para o futuro.
