Um recente estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que as mulheres apresentaram mais sintomas psicológicos durante a pandemia de Covid-19. Estão incluídas questões como a ansiedade e a depressão. Apesar do estudo ser de grande relevância por documentar um fato preocupante, as mulheres sobrecarregadas emocional e psicologicamente, ele não chega a surpreender. Basta olhar para dentro das nossas casas para perceber a sobrecarga das mulheres.
Poderíamos neste espaço abordar a desigualdade de renda que segue afligindo parte da população feminina. Também seria justíssimo falar a respeito da violência doméstica e dos crescentes números de feminicídio pelo país. O preconceito ainda é observado em muitas áreas. Do esporte à ciência, quando uma consegue vencer as barreiras, é motivo de festa. Porém, mesmo todos estes temas sendo justos e ainda merecedores de holofotes, no 8 de março de 2021 precisamos colocar à frente as transformações da trazidas pela pandemia. Em alguns casos, elas complicam situações antes já bastante comprometidas.
A rotina das famílias foi extremamente afetada nos últimos meses. Mesmo as mulheres cujas profissões permitiram seguir trabalhando de casa, reduzindo assim o risco de contaminação, sentiram o impacto de ter as suas rotinas destruídas. Reunião enquanto o filho brinca ao lado? Venda pelo WhatsApp interrompida pelo bebê chorando? Marido atravessando a sala enquanto a professora da aula? Nada disso foi fácil. E as mães que tiveram de aprender a ensinar, em meio às suas próprias atividades, quando o ensino remoto ainda engatinhava? É um período desafiador para todas elas.
As mulheres retratadas nestas situações devem, ainda, se sentir privilegiadas, afinal, puderam proteger sua família e, ainda assim, seguir na atuação profissional. O que dizer, por exemplo, de profissionais de áreas que não pararam e que, apesar de não ter escolas para deixar os filhos, precisam ir trabalhar? E as que perderam o emprego, muitas vezes única fonte de renda das famílias, e se sentem de mãos amarradas entre o medo da contaminação e o da fome? Por essas e tantas outras questões, é até mesmo natural que reflexos na saúde mental das mulheres sejam registrados com tamanha intensidade. O peso sobre os ombros delas ficou ainda mais intenso.
Suportar? Sim, elas irão. Porque as mulheres não desistem de suas famílias, carreiras e objetivos. Mas é injusto que precisemos enfrentar estes desafios e tantos outros sem igualdade de condições. A Covid-19 irá embora – logo, esperamos – e as mulheres seguirão travando batalhas. Ambicionamos que nos próximos 8 de março possamos aumentar os parabéns e diminuir as dificuldades. Neste, ainda não foi possível. Feliz Dia Internacional da Mulher!