A sensação é de que vivemos o mesmo dia desde 29 de abril. A noite chega, dormimos (mal), acordamos, e as notícias são as mesmas – ou muito semelhantes. As atualizações são a respeito do nível do rio, corte ou retorno da água, ruas e estradas bloqueadas e mais e mais municípios gaúchos sendo atingidos pela mesma calamidade que passamos. O jornal de hoje parece um verdadeiro déjà vu, um museu de grandes novidades, como diria a canção de Cazuza, mas, ainda parafraseando o eterno Exagerado, este é apenas o futuro repetindo o passado, através deste repique da enchente no Rio Caí. As velhas novidades falam sobre as águas invadindo as ruas, as aulas sendo canceladas, famílias em abrigos por incontáveis dias, perdas materiais, mudanças no transporte e em serviços essenciais, além de alterações na vida inteira de muita gente.
Queríamos estar falando de reconstrução, em um fio de esperança após a tormenta, olhando para o futuro com sol brilhante e as cidades sendo limpas para que nosso povo recomece. Infelizmente a edição de hoje traz notícias de uma enchente vivida em meio à maior enchente da história de Montenegro. E voltamos a ter as mesmas incertezas de duas semanas atrás: se as aulas serão retomadas, se haverá água potável, se o rio continuará subindo, se há bloqueio de estradas e quando poderemos ter algum senso de normalidade.
As previsões do tempo parecem nunca trazer notícias mais animadoras e, assim como os meteorologistas, os profissionais da comunicação também anseiam por dar boas novas. Por enquanto as notícias são de mais desafios. Assim como durante a pandemia de Covid-19, em que de repente parecia que o pesadelo nunca acabaria, o sentimento geral agora é de cansaço. Mas conhecendo a resiliência do nosso povo, sabemos que, a despeito de tamanha catástrofe e perspectiva de dias ainda muito difíceis, juntos, nos reergueremos e logo a calamidade que vivemos dará espaço às informações sobre o desenvolvimento das cidades, a reconstrução e os eventos comemorativos que voltaremos a vivenciar.
