A Câmara de Vereadores deve votar, nesta quinta-feira, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a construção das 166 casas do Loteamento Bela Vista. Para quem não lembra, trata-se daquele conjunto habitacional “escondido” no bairro Estação, longe dos olhos da maior parte da comunidade, edificado com materiais de péssima qualidade. A tal ponto de as famílias que para lá foram transferidas estarem correndo risco de morte porque, em muitas “moradias”, as paredes e o telhado ameaçam desabar.
Os cinco vereadores que apuraram os fatos chegaram à conclusão de que o quadro foi pintado com as tintas do descaso e da omissão, já que cabia ao poder público, através do então prefeito Percival, secretários e diretores, zelar para que as obras chegassem ao fim com a oferta de residências dignas e seguras. Não foi o que ocorreu. Entre os sete acusados pela comissão, há também dois beneficiários, que integraram a comissão de obras e igualmente teriam se omitido em seu papel de fiscalização.
Óbvio que os valores disponíveis para a construção de cada moradia – pouco mais de R$ 10 mil – não eram suficientes para entregar o que foi prometido. E é justamente aí que começa o erro. Como pode um gestor público imaginar que uma família pode e deve viver numa casa sem as mínimas condições se já sabia que era exatamente isso que iria ocorrer? Aliás, qualquer leigo sabia. E dizer que o projeto era apenas um embrião, para que as famílias, muitas delas egressas da mais absoluta pobreza, terminassem as obras depois, é muita falta de bom senso e noção da realidade.
Talvez a CPI tenha cometido alguma injustiça na sua lista de acusados e todos eles terão a chance de provar sua inocência, mas ela foi importante por, pela primeira vez, dar nome e identidade ao absurdo que ocorreu no bairro Estação. Se cada político ou servidor envolvido naquela obra tivesse de residir no loteamento, com certeza, ele seria bem diferente.