“Na guerra, a primeira vítima é sempre a verdade.” A célebre frase é atribuída ao dramaturgo grego Ésquilo e não vale apenas para os conflitos travados com lanças e espadas. Se o autor vivesse entre nós e tivesse acesso às redes sociais, entenderia que o termo “guerra” também assumiu novos significados. E a disputa pela presidência da República do Brasil, nesse 18º ano do século 21, vai entrar para a história pelo número de verdades assassinadas.
Todos sabíamos que não seria fácil. A julgar pelo aperitivo que tivemos em 2016, quando a eleição para prefeito já havia transformado a internet em campo de batalha, era de se esperar que, neste ano, candidatos e seus apoiadores usassem o Facebook e o Whats app, entre outras ferramentas que a tecnologia pariu, para alcançar o poder na base da mentira. As fake news superam em eficiência qualquer debate televisivo e absolveram os pretendentes ao comando de país de dizer exatamente como vão administrá-lo.
Já lemos e vimos de tudo, menos o essencial: planos de governo e propostas claras para a solução dos graves problemas nacionais. O eleitor é dopado diariamente com o fumacê da distorção e da mentira pura e simples, que transforma loucos em exemplos de candura e bandidos em xerifes. Todos mentem, mas raras vezes tanto e com tamanha desfaçatez quanto agora. E o pior: as pessoas acreditam porque são preguiçosas demais para checar o que lêem.
No dia 28 de outubro, muitos brasileiros irão às urnas convictos de que estão fazendo a melhor escolha. Outros tantos, com a esperança de que o vencedor fará o melhor pelo país, ainda que não saibam exatamente como e quando. E um terceiro grupo irá votar com a nítida certeza de que está assinando um cheque em branco. Não tem mais como mudar essa realidade para 2018, mas espera-se que, até 2020, haja mecanismos de controle mais eficientes contra as fake news, para que a nossa democracia não se torne um lamentável faz de conta. E os próximos prefeitos e governadores não sejam meros sobreviventes de uma guerra suja em que, no longo prazo, perdemos todos.