Meus pais sempre foram humildes. Éramos uma família humilde, mas nunca passamos fome. Passávamos as dificuldades normais de uma família com 6 filhos, onde apenas o pai trabalhava.
Para amenizar estas dificuldades, meus pais plantavam sempre alguma coisa. Aipim, couve, alface, batatas. Criavam porcos e sempre tinha galinhas no pátio e no galinheiro.
No galinheiro, lembro que tínhamos um galo enorme, vermelho e que parecia um demônio de tão bravo, porque não deixava ninguém se aproximar das suas galinhas.
Certa vez, meus irmãos Valter e Valmir foram incumbidos de retirar os ovos produzidos pelas galinhas. E quem disse que o galo permitia? Era o galo correndo atrás dos dois e bicando ora um, ora o outro. E meu irmão Valmir gritando, com meia dúzia de ovos nas mãos, enquanto era bicado nas nádegas: – Segura o galo, Valter… segura o galo.
Uma cena risível, que até hoje não sai da minha memória. Na última semana, voltei a lembrar dela, devido à gripe aviária que chegou em nosso município. No dia 15 de maio (quinta-feira), fomos surpreendidos pela descoberta do primeiro caso de gripe aviária em granjas comerciais no Brasil.
Uma granja da cidade teve todas as suas galinhas mortas e, após análise pelo governo do Estado, foi constatado que se tratava de IAAP, ou seja, Influenza Aviária de alta patogenicidade. Imediatamente o MAPA comunicou aos países que compram frango e derivados do Brasil e as vendas para estes países ficaram suspensas por 60 dias.
Depois disso, o Estado iniciou um rigoroso protocolo de monitoramento e combate ao foco, que ficou localizado apenas nesta propriedade. O Departamento de Defesa Agropecuária do RS, capitaneado pela diretora Rosane Collares, instalou seis barreiras sanitárias na cidade e passou a comandar todas as ações a partir do CETAM, no bairro Zootecnia.
O Município, desde o primeiro momento, colocou todas as suas secretarias à disposição do Estado e ficou no apoio logístico, para que o trabalho fosse facilitado. Disponibilizamos pessoal, banheiros químicos para as barreiras, refeições, água e máquinas para que tudo corresse bem e o mais rápido possível, e tivéssemos resposta a toda situação.
Foram visitadas 540 propriedades num raio de 10km da referida granja e analisada cuidadosamente cada suspeita de novo foco. Felizmente nenhum outro foco foi ainda identificado e, desde o dia 22 de maio, iniciou-se o chamado “vazio sanitário”, que é um período de 28 dias. Caso nenhum um novo foco apareça, deve-se voltar à normalidade.
A gripe aviária é letal para as aves e já existia no Brasil em aves silvestres, mas, em granja comercial, é o primeiro caso. Tem baixo risco de contaminação em humanos e pode-se consumir carne de frango e ovos normalmente. Além do trabalho de controle, o Departamento tem orientado os produtores e moradores sobre as boas práticas em suas propriedades, para evitar o risco de contaminação em seus animais domésticos. Estamos vencendo esta batalha, mas todo cuidado é pouco, pois ainda não sabemos os reflexos que esta crise vai trazer ao país e, principalmente, para nossa cidade.
Qualquer alteração no comportamento das suas aves domésticas ou mortandade, sem causa aparente, deve ser comunicada à SEAPI, através da Inspetoria ou escritório de defesa agrícola mais próximo, ou por meio do whats app 51 98445-2033.
Segura a Gripe, Montenegro.