Meu avô materno, João Antonio Ramos, era analfabeto. Ele não assinava seu nome, ele desenhava. Mas sabia fazer contas como Pitágoras. Tinha um açougue e armazém ali onde hoje é o mercado Padre Réus. No complexo dos Zabrão.
Mesmo sem estudo ou formação acadêmica, teve sucesso no mundo comercial e criou 12 filhos sempre trabalhando com comércio, sem conhecer uma planilha de Excel. Sua faculdade foi a vida. Forjada nos campos de arroz ou nas minas de carvão da região carbonífera.
Algo que não esqueço dele, era que possuía um dente de ouro. Quem tem dente de ouro hoje? Agora a moda são lentes de contato bucal. Deixam o sorriso mais branco que a neve da Groenlândia. Com meu avô e seu dente de ouro era assim: você não olhava para o rosto dele, você olhava para a boca.
Ele tinha uma prática para ter lucro nas suas transações comerciais: vendia pelo dobro do valor aquilo que comprava. Não tinha erro.
Outra coisa que meu avô fazia com sucesso era construir. Fazia reformas e mudanças arquitetônicas na sua propriedade seguidamente e estava sempre alterando o design do seu comércio. Mas não “assentava” um tijolo. Não misturava uma massa. Não colocava um azulejo na parede e sempre tinha uma afirmação para quando era questionado sobre isso: “Não sei fazer, mas sei mandar”.
Questão de perfil. Ele tinha perfil gerencial não operacional. Era inteligente para dar ordens e comandar ou projetar algo mas se fosse colocado a fazer as tarefas, teria passado fome. Sabia exatamente como fazer as coisas mas não tinha habilidades para ele mesmo executar.
Fosse hoje, poderíamos dizer que ele sabia fazer Gestão. E temos vários exemplos disso no mundo moderno. Muitas vezes, promovemos um ótimo técnico para supervisor ou gerente e acabamos perdendo o técnico e não ganhamos um supervisor. Ou seja, não temos mais um e nem outro.
Por isso, é importante saber exatamente o que cada um pode entregar naquilo para o qual é escolhido. Claro que existem funções onde a formação é fundamental. Saúde, por exemplo, é melhor ser da área para conhecer todos os cenários que envolvem saúde pública. Mas isso, por si só, não garante o sucesso e uma boa gestão. Às vezes, um gestor que tem uma boa equipe e sabe ouvir e delegar consegue resultados melhores do que um burocrata teórico e prolixo.
Assumir a SMDR foi um desafio. Nunca tinha focado minha atenção para esta área. Fiz minha vida profissional na indústria. Mas sei ouvir e gosto de estudar. Ainda estamos engatinhando em direção ao desenvolvimento Rural que ambiciono para o município, mas tenham certeza: queremos ser referência para toda a região.
Herdei um pouco do meu avô João: posso não saber fazer, mas tenho quem faça, gosto de aprender, sei ouvir e sei mandar.