Respeito e empatia

Cobrir o noticiário policial não é tarefa das mais fáceis, principalmente quando envolve tragédias pessoais. Em quase três anos como repórter do Ibiá, perdi as contas de quantas reportagens de mortes no trânsito escrevi. Quem conhece a minha história sabe o quanto esse tema é sensível para mim e minha família.
Embora, infelizmente, não consiga lembrar dos números, não esqueço de histórias marcantes sobre as vítimas fatais. E tem um gosto ainda mais amargo publicar os casos de vidas perdidas devido à irresponsabilidade de péssimos motoristas. Recentemente, fui recebido na casa da família Bock. A entrevista abordou a perda da jovem Kellen, de apenas 18 anos. Ela morreu num acidente causado por um motorista embriagado após realizar a prova do Enem.
Os pais e o irmão mais novo dela, com certeza, nunca superarão o trauma. Com o tempo, vão aprender a conviver com a dor, mas nada será como antes. Contar casos assim, quero acreditar, serve para chamar a atenção para a gravidade do problema. É preciso sempre frisar: carros não são armas.
Também relatei a morte do jovem Cássio de Azeredo. Ele se acidentou na ERS-411 quando se dirigia para visitar a namorada em Canoas. Ela, provavelmente, vai ficar esperando por ele muito tempo ainda, com a sensação de vazio.
Outro ponto extremamente delicado é saber lidar com a dor das famílias no local. É preciso, acima de tudo, respeitar o momento. Esses dias, eu e o colega Mateus Friedrich fomos até um trecho da ERS-240, em Capela de Santana, onde ocorreu um acidente com duas mortes. Ao chegar ao local, fomos informados pela Brigada Militar sobre o desejo da família de não deixar os jornalistas se aproximarem do carro destruído.
Diante do fato, não precisamos pensar muito para tomar a decisão de apenas fotografar a cena de longe e pegar as informações de como a colisão aconteceu. Talvez a imagem não tenha ficado das melhores, mas ter empatia supera o trabalho jornalístico.
Enquanto exercer a função, continuarei buscando as histórias por traz dos números. Os índices sobre acidente são importantes, claro, mas descrever quem são as vítimas é mais. Talvez a penúltima página do Ibiá não tenha a melhor foto ou o nome de quem se foi, caso a família assim prefira, mas sempre sobrará respeito à memória das vidas interrompidas de forma repentina e a torcida para o número de casos ser cada vez menor.

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