Chegamos no 365º dia de 2021. São as últimas horas desse ano desafiador, cheio de altos e baixos, ganhos e perdas. Poderia escrever aqui sobre vários assuntos que pautaram os últimos 12 meses, mas minha pretensão é aprofundar o tema redes sociais e fazer alguns alertas pertinentes a partir das experiências pessoais vividas.
Decidi dar um tempo do Instagram por livre e espontânea vontade no final de setembro. Percebi que o aplicativo tomava demais o meu tempo, sugava as minhas energias. Estava em um momento de incertezas, dúvidas e necessitava um período de introspecção. Essa atitude exigiu coragem, atitude, autocontrole e autoconsciência. Fiquei com dois perfis profissionais dos quais sou responsável e, sim, dava umas pequenas visualizadas para além do trabalho. Eram sutis recaídas.
Nesse período fora, muita coisa aconteceu. A ex-funcionária do Facebook, Frances Haugen, denunciou à imprensa dos Estados Unidos uma série da danos que a empresa sabia que causava, entre eles o fato de o Instagram piorar os problemas relacionados às imagens corporais entre os adolescentes. As revelações causaram uma crise institucional na empresa, que até de nome mudou e hoje é conhecida como Meta, proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp.
Acredito que, além dos problemas como a falta de segurança dos nossos dados, os direcionamentos feitos pelos algoritmos, descontrole das fakes news, discursos de ódio e reproduções livres de conteúdos pornográficos nas redes sociais – no Twitter, por exemplo -, há muitas outras obscuridades.
Vejo surgir um fenômeno novo. Não sei definir tecnicamente, mas me parece um novo tipo de vício que causa danos psíquicos, tais quais o alcoolismo e drogas alucinógenas. As redes sociais viciam grande parcela daqueles que estão com perfis ativos. Porém, muitas pessoas não percebem o quanto estão alienadas pelo Facebook, Instagram, Twitter e demais redes utilizadas para o que eu chamo de exposição da própria figura.
Encontramos no Instagram centenas de pessoas – me incluo nessa – que postam majoritariamente imagens do corpo ou dos mais perfeitos momentos da vida pessoal, com muito sorriso, bebida, festa, praia, viagens pelo mundo todo. Pessoas muito jovens mostrando como é fácil ganhar dinheiro, ou apresentado as suas belas e bem sucedidas carreiras antes dos 30. Tudo alegria e festa, menos para aqueles que fora das redes sociais enfrentam perrengues diários e crises existenciais nas vidas pessoal e profissional.
Piora a situação se você estiver com alguma insatisfação, desencontros ou dúvidas do tamanho de um grão de areia na sua vida, pois ao assistir a chuva de felicidade e de pessoas muito bem estabilizadas a partir do Instagram, o tombo emocional é grande. Eu pautava e media a minha carreira profissional e a minha vida pessoal pelo perfil do Instagram das pessoas que eu sigo. Mais do que isso, para reafirmar quem sou e buscar felicidade, postava a melhor foto da galeria, escrevia a melhor legenda para aguardar muitas curtidas e comentários exaltando quem sou. Contudo, nem sempre isso acontece. Minha experiência foi como se eu estivesse em um lugar muito escuro, totalmente desagradável e sufocante.
Consegui processar esse sistema complexo de ações e emoções internas e externas, me conectei ao presente e à minha consciência, para dar o tempo necessário e ressignificar quem sou, o que quero e o que estou fazendo ao meu presente, ao meu futuro. Faz alguns dias que reativei minha conta no Instagram, agora com outra visão sobre as redes sociais, tentando equilibrar o uso delas e não cair nas antigas armadilhas, as quais perduram.
Espero que essa discussão seja ampliada por mais pessoas. Acredito que todos nós devemos batalhar por melhorias e legislação específica a essas estruturas sociais on-line, para que sejam espaços de respeito, sobretudo às diversidades, privacidades, realidades sociais, contribuindo preservando a saúde emocional e mental.