O Brasil que eu quero

Ouvindo as muitas falas sobre o tema O Brasil Que Eu Quero, todos os dias, veiculadas na TV, concluo que as pessoas esperam muito mas fazem pouco. Em geral, dizem o que esperam que seja feito para melhorar a vida em comunidade, mas não dizem como fazer; falam o que desejam, mas não como alcançar o sonho almejado. Somos um país de acomodados que, usando do argumento de que já pagamos impostos, isso basta para que tudo deva funcionar bem e que como desejamos. Ora, a fala a ser dita deveria ser: o que estou fazendo para melhorar o Brasil?
Vou dar um exemplo local que vale para o geral: ande pela calçada ao redor da quadra onde você mora e observe o cenário. Veja as lixeiras mal instaladas (muitas casas nem as têm e o lixo fica depositado nas sacolas sobre a calçada mesmo, ou pendurado em árvores ou cercas). Observe o desnível (degrau) das calçadas umas em relação a outras, ainda que em terreno plano. Repare os buracos não fechados nas calçadas (ou mal remendados). Observe o capim crescendo junto ao muro das casas ou ao meio-fio e analise a descontinuidade das calçadas com brita, terra, entulhos ou alguma árvore que impede a passagem. Olhe as bocas de lobo fechadas com argamassa pelos moradores que não desejam aquilo em frente às suas residências (nas dos outros, sim).
Fiquei num exemplo simplório, o passeio público, que deve ser mantido pelo morador, mas que poderia ser ampliado para o comportamento no trânsito, nas filas, nas salas de espera, no uso de bens públicos (banheiros, praças, áreas de lazer), no ruído excessivo que perturba vizinhos a qualquer hora (principalmente à noite), na ausência de controle sobre o insistente latido de cães (me intriga, porque parece que seus donos são surdos, ou que apreciam latidos o tempo todo), na falta de cuidado com os dejetos dos animais de estimação em via pública, e em muitas situações do cotidiano que poderia mencionar.
O Brasil que eu quero é o Brasil da tomada de consciência sobre o papel de cada um, do protagonismo das ações e não da expectativa de que alguém faça, da realização de pequenos gestos ao alcance da mão, que somados aos milhões de outros pequenos gestos, farão de nosso país uma grande nação. O Brasil que eu quero é aquele onde a caneta do caixa da loja, do banco ou da lotérica não precise ficar presa por uma corrente ou cabo de aço para não ser furtada pelo cliente. Pede-se muito, espera-se muito, faz-se pouco. Pede-se que outros façam o que se deveria fazer por iniciativa, dever e consciência. Os políticos, por sua vez, refletem a conduta de seus eleitores, e agem na omissão destes, que lhes dão carta branca para agir em seu nome, renovando-a a cada quatro anos. Reclamar e seguir votando nos mesmos só vai perpetuar o estado das coisas. Não se chegará a local diferente percorrendo o mesmo caminho. Não se obterá resultado diferente agindo da mesma maneira. O pensar pode ser global, mas o agir tem que ser local. Pense, reflita.

Leodimar Aldo Mantovani
Coronel da Reserva da Brigada
Militar do Rio Grande do Sul

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