Trabalho, negritude e empreendedorismo

Nas nossas andanças pelos movimentos, pelas militâncias, nas lutas, um destaque especial sempre recai sobre a atuação das mulheres negras.

Como é sabido por todos, nasci em uma família com muitas mulheres negras. Uma família em que a diversidade de pensamentos, de colorismo, de opiniões fortes e de posicionamentos só não é maior do que a coragem delas. Coragem que acolhe, que cura, que resgata. A força dessas mulheres é capaz de cuidar das feridas do mundo.

E os questionadores, questionarão: “O que há de novo nas mulheres negras?”

“Não vai falar do Dia do Trabalho?”Então… deixa eu te contar uma história.

As mulheres da minha vida sempre foram, e sempre serão, o maior exemplo de dedicação que conheço.Faço parte do Coletivo de Mulheres Negras de Montenegro, que entende o trabalho como uma forma de contar sua história, reafirmar sua identidade e mostrar por que quer – e deve – ocupar a cena empreendedora da cidade.

O crescimento social passa, necessariamente, pela questão econômica e pelas relações de trabalho. Desde os primórdios, muitas etnias foram identificadas pela profissão que exerciam ou pela ocupação de seus ancestrais. O trabalho, por muito tempo, foi sinônimo de status – ou da ausência dele.

Mas talvez o que mais se ignore é que trabalho é, acima de tudo, resiliência e busca por autonomia.
As mulheres negras, desde o tempo da escravidão, são empreendedoras natas. Muitas sustentaram seus filhos e suas famílias com o empreendedorismo social, mesmo diante da escassez, da opressão e da exclusão.

Hoje, o empreendedorismo negro tem avançado de forma rápida e destemida, permitindo a geração de renda e a conquista de liberdade financeira para o povo preto.

Sabemos que a jornada não é fácil. Ela é marcada por desafios como a dupla jornada de trabalho, a sobrecarga causada pelo racismo estrutural, a falta de acesso ao crédito e o limitado acesso à educação de qualidade.

Ainda assim, neste universo do trabalho, vemos um movimento crescente de mulheres negras que empreendem, inovam, criam novos postos de trabalho e inspiram outras mulheres a seguir por esse caminho.

O Coletivo de Mulheres Negras de Montenegro é uma rede de apoio social e emocional. Abrimos portas para formações, eventos e espaços voltados ao crescimento econômico. Nosso foco é construir uma sociedade antirracista e transformadora, por meio do empreendedorismo. Lutamos por black money, por circulação de riqueza dentro da comunidade negra, por dignidade, pertencimento e justiça econômica.

Acreditamos que, para reduzir as desigualdades, é essencial abrir espaços reais para que mulheres e homens negros possam empreender, liderar e ocupar.

O crescimento do empreendedorismo negro e feminino é uma ferramenta poderosa de combate ao racismo, pois gera oportunidades reais de autonomia e renda para mulheres negras.

Em Montenegro, mesmo com todas as dificuldades do percurso, seguimos acreditando.

Saravá!

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