Celebrar ou protestar?

Todo ano eu quero celebrar. Eu quero fazer festa e dizer que sou uma mulher com todos os direitos e acessos que a vida poderia me dar. Daí olho para o lado, para a televisão, para minhas amigas e penso: Será que dá para só celebrar? Todo mundo (que não seja homem, cis, branco, classe média alta, machista ou misógeno) sabe que as coisas não funciona assim. E os questionadores questionarão: Mas tu não tem nada, nem ninguém para para festejar neste 08 de março? Tenho sim, e vou eleger uma boa história, que representa muitas outras em Montenegro.

A grande professora Elizabete Gonçalves, homenageada ilustre da Câmara dos Vereadores de Montenegro. Dona de um português impecável e de opiniões fortes, lembro dela das reuniões intermináveis em minha casa, que deram origem ao Movimento Negro de Montenegro. Professoras como a Bete, são professoras em todo o espaço que permeiam. Se vê de longe a postura, a comunicação e toda frase que parece uma aula de história.

E digo aula de história porque esse conhecimento muda o mundo. Por onde passamos, as pessoas se referem a essa mestra com carinho, sobre suas frases de incentivo, sobre passagens da vida, sua contribuição nas escolas e pessoas que com seu conhecimento mudou a vida. Estes dias estava em uma mentoria com alguns jovens, todos no mínimo 25, 30 anos mais jovem do que eu. Ao citar a professora Elizabete, todos lembraram que tinham histórias para contar, das suas frases de incentivo e principalmente da sutileza de ter a pauta preta, como uma significativa prioridade. Lembrei do evento de mulheres em São Leopoldo, debate promovido pelo movimento negro sobre pautas negras femininas.

Na divisão das mesas, a pauta destinada às empregadas domésticas (termo usado na época) não teve procura, a mediadora pegou o microfone e reclamou veemente ao público, que infelizmente não pareceu se importar. Vi nossa Elizabete se dirigir a oficina, ela e a mediadora. Fiquei pensando alguns dias naquele ato, meio sem entender. Hoje sei que a demonstração de sororidade vista ali é o que representa Elizabete. Uma empatia nata, sem pré -julgamento, muito característico dos professores.

Sabemos que ainda hoje para as mulheres negras ascender e manter-se em espaços de sucesso é uma luta interminável, que exige posicionamentos, sabedoria e muita perseverança. Sabemos que só conhecimento nos leva até o ponto de partida, mas a disciplina que impulsiona nossa trajetória. Elizabete Gonçalves demonstra que os seus mais de 40 anos dedicados à educação, são a potência que precisamos para viabilizar lutas históricas, que combatemos diariamente.

Essa mulher segue contribuindo com feitos e fazendo história por onde passa. Nossa protagonista de hoje é Elizabete, mas não esqueceremos das Reginas, Camilas, Marias, Célias,Glórias, Judites, Inês, Helenas, Jussaras, Veras, Neuzas, Gessis, Josephas, Vitórias, Fabrícias, entre tantas outras mulheres importantes que precisam ser celebradas neste dia. Somos gratos por todas essas contribuições em Montenegro.Ubuntu!

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