Bituca

Acordo na madrugada (23h) com uma voz ao telefone:“Consegui um convite para ver à pré-estreia do filme do Milton BITUCA Nascimento”. Meio sem saber que estava tomando umas das melhores decisões da minha vida, aceito. Sabemos que 2025 é um ano mágico de shows e despedidas dos palcos de grandes nomes.

Milton se despediu em 2024, mas documenta esse fim de maneira singela e encantadora. Milton BITUCA Nascimento, multi instrumentista, músico, compositor, poeta, pai e homem negro retinto, tem uma carreira que reune amigos ao longo do mundo. E os questionadores, questionarão: não é só mais um músico? O que mais podemos falar sobre a contribuição dele? O que tem haver com Montenegro? Então… deixa eu te contar uma história? Bituca nasceu no Rio de Janeiro e cresceu em Minas Gerais. Viaja pelo mundo cantando e compondo de maneira fenomenal.

Homem preto retinto relata desde a infância situações de discrininação racial e o quanto sua adoção multiracial era mal vista na época. Ao longo do filme relata o quanto sua mãe adotiva, que era branca, sofreu por ter um filho negro. Até a atualidade, a adoção de crianças por famílias brancas ainda é um processo doloroso, pouco discutido e que merece uma coluna inteira sobre o tema.

Para aqueles que não sabem, Milton é tão genial que ao compor Francisco, música instrumental, não fala uma palavra e comunica toda a sensibilidade, musicalidade, esperança e pertencimento, num momento crucial do nosso país. O documentário começa com o protagonista admitindo que se acha um pouco alienígena, fora de alguns contextos, com passagens interessantes, como o fato de ter reprovado nas aulas de música da escola regular e ser reconhecido mundialmente por seu talento.

Em um tempo que no Brasil praticamente não tínhamos figuras negras na mídia, em campos de destaque, ele viaja pelo mundo, ganha festivais, toca em casas noturnas, une pessoas e encara a ditadura com suas letras reflexivas e combativas ao regime militar, mesmo sem perder a parcimônia. Fui para ver um documentário, mas me emocionei com um recorte da história de vida de um músico sabio, criativo, que contrariou as possibilidades e se fez um negro em movimento. A fama lhe fez conhecido, mas não lhe tirou o espírito de luta. Ver referências pretas como Spike Lee, Djamila Ribeiro, Djonga, Mano Brown, entre outros grandes nomes da música, demonstrarem tanto respeito a vida e obra dele, nos faz pensar que nossa causa não está perdida.

Que o respeito pelos pretos velhos é ancestralidade pura. Que a música une pessoas e a vida nos dá exemplos. E o que este documentário tem haver com Montenegro? Nosso co-roteirista é Marcelo Ferla, montenegrino atuante no mundo das artes. Que junto com toda essa equipe maravilhosa fez um brilhante trabalho, de trazer a luta antirracista ao documentário.Ubuntu!

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