Amor de venerar

Há muito tempo li o texto incrível de um personagem de um livro de ficção científica, cujo título é Altered Carbon, ambientado em um mundo futurista onde multimilionários e bilionários podem viver por tempo indefinido.E, nesse mundo, com centenas de anos de casamento, o personagem Laurens Bancroft fala ao personagem principal sobre sua esposa da seguinte forma: “Sua limitada experiência de vida não pode abranger o que é amar outra pessoa por mais de 100 anos. Você alcança algo próximo à veneração”. É verdade que no livro, eles não são realmente tão felizes assim, mas a verdade do texto está além de seu locutor.

Quando ouvi essa frase, tive o vislumbre, ainda que limitado, do amor que experimento por minha esposa, ainda que não tenha vivido centenas de anos com ela (mas sei que viveria). E que o amor, se real, transcende o mundo, a carne e qualquer coisa passageira. Realmente é interessante pensar que se torna quase uma veneração; não à pessoa, mas à entidade interior que se manifesta naquele ser ao qual nos unimos, pois é aí que se passa a perceber o aspecto divino que há em algumas relações. Não são relacionamentos meramente sociais ou apaixonados, mas uma fusão, uma ressonância que vibra por dentro de ambos. É algo próximo do inexplicável, de fato.

O amor, o verdadeiro amor, é algo sublime que está além do corpo, além dos processos psicológicos ou químicos. É uma conexão estranha ao racional; é quase indescritível. Ele provém de uma harmonia entre duas consciências que, por algum motivo além do nosso entendimento, unem-se de forma indissolúvel, como se ambos fossem um só feixe de luz.

E com isso não digo que duas pessoas que possuem esse amor venerável sublimemente divino não discutam, discordem ou se estressem um com o outro. Porém, diferente do “amor” comum, que é um aspecto psicológico e químico, esse amor perfeito se coloca acima dos defeitos banais, uma vez que mesmo esses defeitos são incapazes de dirigir qualquer pensamento mesquinho ou maldoso em relação à outra pessoa amada. Nesse amor sublime o eu desaparece e o outro é foco de bondade, carinho, altruísmo e preocupação. E, por ser divino, esse amor digno de veneração se completa em um negando-se a si mesmo pelo outro, fazendo com que ambos realmente preencham suas necessidades e anseios do “coração” através do companheiro de vida.

Infelizmente são raros os encontros que permitem esses amores divinos onde duas consciências convergem para um mesmo bem, para um mesmo estar, uma mesma vida. Mas quando isso acontece, você enxerga através da carne, através dos aspectos da mente e vê a luz aconchegante que emana do outro; e você se sente em casa, esteja onde estiver.

Eu posso dizer que tive sorte de encontrar cedo dessa caminhada minha esposa, pela qual já possuo um vislumbre da luz que é esse amor onde se venera a entidade que se manifesta na outra pessoa a qual se ama sublimemente. E desejo o mesmo para você.

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