Chegamos ao fim/início do mundo

Frio, um povo isolado, montanhas cobertas de neve, paisagens incríveis… tudo que ousávamos imaginar sobre Ushuaia já caiu por terra antes mesmo de chegarmos aqui. Aqui, sim, porque ainda estamos no ponto mais austral do mundo e devemos continuar por mais alguns dias, até que cansemos de acordar com uma vista de tirar o fôlego – o que não faz sentido e não deve acontecer -, ou conheçamos tudo que nos propusemos a conhecer e seja hora do próximo destino.

Sem sombra de dúvida, o caminho para este paraíso gelado é grandioso e um espetáculo à parte. Saímos de Rio Grande, nossa última parada antes de Buenos Aires, no último domingo, pela manhã. Estava frio, mas nenhuma novidade até aí, e sabíamos que a previsão era esfriar ainda mais durante os mais de 200 quilômetros que percorreríamos até Ushuaia.

O que não esperávamos era que, de repente, ainda a 135 quilômetros, toda neblina, chuvisco e um cenário tipicamente invernal, desse lugar a imagens dignas de quadros. Uma cadeia de montanhas foi se formando ao lado da Analuz, enquanto ela nos levava para cima, decidida a encarar com toda simpatia e carisma de uma Kombi aquela estrada totalmente nova, coberta de gelo, rodeada de neve e absurdamente linda.

Não sabemos bem como explicar a magnitude desse momento. Vimos neve com todo o entusiasmo da primeira vez, ficamos paralisados com aqueles monstruosos (mas uns monstrinhos amáveis) montes, nos encantamos com árvores iguais às dos filmes, com uma camada branquinha da metade para cima, rimos de felicidade em ver que estávamos onde devíamos estar.

Bateu um medinho de andar em meio à tanta novidade? Sim! Até porque, em todo trajeto vimos vestígios de acidentes, carros e caminhões que saíram da pista por causa do gelo e caminhões rebocando veículos batidos. Mas, nós e nossos 60 km/h, redobramos a atenção e nos mantivemos com calma. Em frente! Em êxtase! Rumo ao início do mundo!

Fronteiras que cruzamos até aqui
Desde que saímos do Brasil, dia 10 de maio, inacreditavelmente há quase um mês, cruzamos os limites entre os países quatro vezes. Brasil – Uruguai, por Chuí; Uruguai – Argentina, por Colonia Del Sacramento; Argentina – Chile, por Río Gallegos; e Chile – Argentina, por San Sebastian.

Esta faixa de Chile que cruza o território argentino nos obrigou a passar por uma das mais severas aduanas até agora. Para chegar ao Uruguai e à Argentina, as fronteiras foram supertranquilas. Oficiais educados, perguntas-padrão e uma revista de leve na Kombi. Quando entramos em terras chilenas, percebemos a diferença logo de cara. São quatro passos, indicados por placas e setas, que toda pessoa que cruza, com ou sem veículo, deve passar: baixa na Argentina, entrada no Chile, declaração de bens (como celulares, máquinas fotográficas e grande quantia em dinheiro) e registro de alimentos de origem animal ou vegetal.

Este último quesito é o mais chatinho. Nós, por exemplo, levávamos ovos, carne cozida, pacote de feijão, uma batata-doce, pacotes de milho de pipoca e lentilha, além de arroz, massa, farinha, essas coisas. Todos os primeiros itens foram recolhidos. De maneira séria, ordeira, respeitosa e nada gentil, o fiscal mostrou que não tem carinha de choro que mude a lei. Não pode, não pode! Tudo certo. Deixamos nossa comida por ali e seguimos.
Isso mostra o que nos espera neste, que é nosso próximo país de destino.

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