Se a posse do presidente Jair Bolsonaro tivesse de ser resumida em um único adjetivo, a palavra mais adequada seria “previsível”. O tom da solenidade foi a cara do novo inquilino do Palácio do Planalto, que estava previsivelmente emocionado em vários momentos. Populista clássico, o “mito” repetiu gestos e frases de campanha, como a imitação de uma arma com os dedos e o desenrolar de uma bandeira do Brasil que carregava no bolso, acompanhado da garantia de que o principal símbolo do país jamais será vermelho. Bolsonaro também reafirmou promessas como o “fim do socialismo” e da “ditadura do politicamente correto” para delírio de seus eleitores. O forte esquema de segurança foi outra marca do evento e, apesar das críticas, pode ser justificado pelo atentado que sofreu durante a campanha. Por outro lado, era visível o prazer com que os comandantes militares exibiam seus “equipamentos”, o que, para muitos, pareceu um recado à população.
Conclusões – Diante de tudo que foi dito e mostrado na solenidade de posse, é possível tirar duas conclusões:
1 – ninguém controla o novo presidente da República e, durante o seu governo, a população conseguirá identificar, em cada ato, aquilo que ele pensa;
2 – Bolsonaro vai fazer o que disse que faria e dificilmente abrirá mão de suas convicções em função da opinião pública.
Em síntese, é provável que o Brasil tenha, pelos próximos quatro anos, muitos enfrentamentos, pois várias medidas defendidas durante a campanha – e principalmente antes dela – vão repecutir não apenas sobre a oposição, mas também sobre os eleitores do “mito”.
Divisão – No momento em que recebeu a faixa, Jair Messias Bolsonaro se tornou o 38º presidente da República e de “todos os brasileiros” e não somente daqueles que votaram nele em outubro do ano passado. Isso parece que ainda não está muito claro para o “mito”, à medida que, diligentemente, reproduz um erro dos governos petistas: o do “nós contra eles”. O novo presidente disse que veio “libertar o Brasil do socialismo”, e que a bandeira brasileira “nunca será vermelha”. É como afirmar que aqueles que defendem, em seu direito democrático, os valores que não são os da extrema-direita, não cabem mais no Brasil. Tem que ver isso aí, presidente!
Vidraça – Nas redes sociais, há muita gente reclamando que as pessoas estão torcendo contra o governo, mesmo que ele ainda não tenha tido tempo de mostrar a que veio. Os eleitores de Bolsonaro precisam entender que ele deixou de ser pedra e agora é vidraça. Assim como ele e seus apoiadores batiam nas gestões Lula e Dilma mesmo antes da eclosão dos escândalos de corrupção, é óbvio que a oposição vai dar o troco. Faz parte da Democracia. O que precisamos aprender é a criticar o que realmente deve ser atacado, sem perda de tempo e de energia com mimimi.
Surpresa
Se, no tocante à política, o novo governo segue o script, é no campo pessoal que nasce uma surpresa: Michelle Bolsonaro. Ao se dirigir à nação na Língua Brasileira de Sinais (Libras) antes da fala do marido e depois dar-lhe um beijo que não estava no protocolo, ela chamou a atenção. Pode ter sido ensaiado, mas foi bem mais simpática que a antecessora, a “bela, recatada e do lar” Marcela Temer, com sua cara de paisagem.
Sérgio Moro, o xerife, saca rápido
Muito badalado na posse, terça-feira, o novo ministro da Justiça, Sérgio Moro, está trabalhando num projeto de lei que define, de uma vez por todas, a prisão dos criminosos condenados em segunda instância. A ideia é acabar com a insegurança jurídica sobre o tema, que obriga o Supremo Tribunal Federal a, volta e meia, posicionar-se sobre o assunto. Se a medida for aprovada pelo Congresso, as chances do ex-presidente Lula e de outros condenados por corrupção saírem da cadeia acaba.
Adequações – Também neste movimento, não há surpresa. Quando aceitou o convite para ser ministro, Moro disse que renunciaria à magistratura para poder mudar as leis e acabar com o eterno prende e solta. Afinal, as regras que deveriam garantir a permanência dos bandidos na cadeia, muitas vezes, são feitas por quem mais rouba. Estes políticos advogam em causa própria.
Na hora – Outro projeto que o novo ministro está assando pretende garantir a prisão imediata de condenados em júri popular quando o crime for contra a vida. Qualquer brasileiro em sã consciência é contra a liberdade de um assassino enquanto tramitam os recursos a que têm direito. Bandido condenado nas ruas é a prova da falência do Estado em defender a maioria da população.
Expectativa – Xerife do governo, Moro saca rápido, mas há quem desconfie que não usará o distintivo com a mesma força quando se deparar com irregularidades no novo governo. O tempo dirá!
Vitórias coletivas
Mais jovem governador do país, com 33 anos, Eduardo Leite (PSDB) foi empossado projetando uma “nova equação política visando o bem comum”. Num tom conciliador, usou várias frases de efeito para falar sobre a realidade que está encontrando e como pretende tirar o Estado da crise, mas não explicou as medidas que adotará na prática. “Queremos e vamos romper com velhos modelos, porque este novo momento exige novas formas de fazer e construir. Não podemos mais ficar parados no tempo, porque nem sequer temos mais tempo”, discursou.
Desperdício – O novo governador ressaltou que os políticos gaúchos estão desperdiçando, há anos, a força transformadora da união. “Chega de criar raízes na discórdia, quando nós podemos fazer da convergência uma alavanca de desenvolvimento para todos”, declarou. Leite diz que é preciso produzir “consensos estratégicos” para o Estado. “Quero construir vitórias coletivas e não derrotas individuais.”
Insensíveis – O discurso do governador atendeu à lógica da crise, mas não tem efeito prático. Principalmente quando somente o Executivo faz cortes e reduz investimentos. Legislativo e Judiciário, onde estão os maiores salários e mordomias, assistem a tudo de cima, blindados pelo princípio da independência entre os poderes. Eduardo Leite, assim como seus antecessores, não conseguirá sensibilizar estas castas.
Impostos – Imagine o leitor quanto cada gaúcho poderia pagar a menos em impostos se todos os poderes participassem do esforço de tirar o Estado da crise. Como isso não acontece, nada se investe em infraestrutura e todos são obrigados, por exemplo, a transitar por estradas esburacadas ou a pagar pedágios. Ou, pior ainda, ficar sem atendimento nos hospitais.
Rapidinhas
* Com a posse de Cristiano Braatz (MDB) na Prefeitura até o fim da semana que vem, a Câmara de Vereadores está sendo presidida pelo vice, Juarez Vieira da Silva (PTB). A solenidade foi ontem.
* Dia 10 iniciam as obras de embelezamento das esquinas da Ramiro Barcelos com José Luiz, Osvaldo Aranha e Santos Dumont. Pode haver transtornos ao tráfego, mas será por uma boa causa.
* Passados os feriadões e sem a atribuição de cuidar da limpeza de praças, parques e jardins, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente precisa dar uma atenção à coleta do lixo. Voltaram as queixas de que os resíduos secos não estão sendo recolhidos nos dias e horários certos.
* Vereador Talis Ferreira (PR) vai retomar a discussão sobre a proibição da venda de fogos com barulho. Boa pauta, mas também é preciso fiscalizar a comercialização ilegal em armazéns e até por ambulantes. Crianças e adolescentes, inclusive, têm tido livre acesso aos produtos. A lei veda.