Há um nome que monopoliza o noticiário brasileiro há alguns meses: Odebrecht. A forma promíscua que a empreiteira se relaciona com o poder, nas suas mais diversas áreas, é capaz de originar um roteiro de Hollyood, daqueles que a gente não consegue enxergar onde começa ou termina. São tantos governantes e siglas engalfinhados com as e construtoras que chega a confundir. A “delação do fim do mundo”’, como foram apropriadamente apelidadas as revelações bombásticas do núcleo da Odebrecht, revelou um esquema de caixa 2 que abasteceu os cofres de quase todos os partidos brasileiros. Porém, engana-se quem pensa que esse relacionamento entre políticos e empresários é algo novo.
O casamento harmonioso das empreiteiras com as obras públicas é antigo: começou no governo Juscelino Kubitschek (1955-1960) e teve sua “lua-de-mel” na ditadura militar (1964-1985). Ali as empreiteiras ganharam força no cenário político e econômico. De JK pra cá, foram acessando os meandros do poder em Brasília. Aliás, a própria construção da capital federal, fundada em 1961, foi um marco para a história das construtoras. Reuniram-se e se organizaram politicamente. Depois, passaram pelo planejamento da tomada de poder dos militares e pautaram as políticas públicas do país.
Após a ditadura, e com os cofres supercapitalizados, o financiamento privado de campanhas passou a garantir a manutenção das empreiteiras nas grandes obras do país. Somente na última campanha para presidente, por exemplo, as empreiteiras doaram pelo menos R$ 207 milhões a candidatos de todos os cargos.
A força adquirida pelo lobby das grandes empreiteiras viciou o sistema de licitações. A grande maioria dos empresários não acredita na possibilidade de participar em condição de igualdade com as financiadoras de campanha. Isso reduz a confiança nas instituições, inibe a livre concorrência e reduz o ritmo do desenvolvimento.
Com a proximidade ao poder, as empresas passaram a tornar o mercado de participação em obras públicas exclusividade de um “clube”, como era chamado. Nunca houve uma descentralização de empresas porque elas monopolizam e só abrem espaço para menores de forma terceirizada. Caberia ao gestor dar transparência ao processo, mas como aqui, nesse caso, uma mão lava a outra, aí se faz de tudo para tentar burlar.