Uma pequena história – Parte 3

Joaquim estava eufórico. Havia pensado em tudo. Após a ligação para o SAMU, escondeu-se atrás de uma árvore e ficou espreitando a passagem das ambulâncias, sabendo que seria o grande vencedor do desafio. Por volta das 15h22min, surgem ao longe três ambulâncias, caminhão dos Bombeiros e duas viaturas da Polícia Rodoviária, com suas respectivas sirenes ligadas, em alta velocidade. Joaquim vibra, pois seu plano havia saído melhor do que pensava.
Neste mesmo horário, no outro lado da cidade, uma senhora de 67 anos começava a agonizar com fortes dores no peito, sua respiração apresentava-se extremamente dificultosa e sua amiga, desesperada, questionava o médico a todo instante de quando chegaria o socorro. Frustrado, o médico tentava explicar que não havia o que fazer e que as ambulâncias da cidade estavam indo atender a uma catástrofe envolvendo várias vítimas e que não havia socorro disponível.
As unidades de socorro chegaram no local do “acidente” às 15h28min e constataram que não havia acidente algum. Ligaram para a Central de Regulação, que tentou contato com o solicitante, porém, Joaquim havia desligado o celular, prevendo que alguém poderia ligar de volta. Ao informar que se tratava de um trote, a Unidade de Suporte Avançado foi orientada a deslocar, no que os socorristas chamam de “Código Vermelho”, para o lado norte da cidade, exatamente sentido oposto ao que estavam.
De sirene ligada, em alta velocidade, mais uma vez correndo contra o tempo, chegaram à casa de dona Clarice às 15h41min, desceram da ambulância com todo o aparato possível para reanimar a vítima, mas infelizmente, há mais de 5 minutos, dona Clarice da Silva Guerreiro não respirava e nada mais poderia ser feito, a não ser dar a triste notícia a todos os amigos que ali estavam.
Chocados, os amigos da simpática senhora, que amava a natureza, a vida, os amigos e sua família, contataram a filha, Mariana Guerreiro, que morava no extremo sul da cidade. Transtornada, ela procurou o filho Joaquim Guerreiro para comunicar o falecimento de sua avó, mas não o encontrou. Entrou no carro e foi ao encontro de sua mãe que não tinha mais vida.
O jovem Joaquim Guerreiro, de 17 anos, estava na casa de um amigo, comemorando a vitória no desafio que havia lançado alguns minutos antes, mostrando orgulhoso o áudio e o vídeo de seu feito, sem saber que foi responsável pela morte da avó que tanto amava.
Como falei no começo, esta história é fictícia e teve como intenção fazer com que as pessoas reflitam a respeito do ato de passar trotes para serviços de urgência e emergência e as consequências que estas atitudes podem gerar. Afinal, ao passar trotes, podemos estar matando alguém que amamos, mesmo sem querer.

Carlos Eduardo Vogt
Enfermeiro

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