Essa é uma época de festas. De boas energias, de coisas felizes. Mas também é um período em que as expectativas se potencializam. Até as coisas mais simples, como uma compra online que nunca chega – mesmo que a entrega seja muito antes do previsto – nos geram grandes momentos em que os ponteiros do relógio parecem não passar nunca. E é um fato que as restrições impostas pela pandemia, que criaram no comércio local a opção de fazer pedidos pelas redes sociais e receber em casa, nos facilitaram a vida, mas também estão nos obrigando a reaprender a comprar e vender. E, principalmente, a esperar.
Eu, que sou grande fã dos serviços de tele-entrega, viro um verdadeiro meme sentada na porta de casa a partir do momento em que confirmei a compra. Tenho certa agonia em fazer os entregadores aguardarem e, por isso, sempre saio correndo quando ouço a buzina em frente ao meu portão. Mas confesso que esperar meu pedido ficar pronto, mesmo que leve de 20 a 40 minutos, é sempre um motivo para muita impaciência (que guardo para mim, afinal, é o tempo mínimo necessário para produzir uma refeição ou lanche).
Mas este período em que vivemos não é apenas de expectativas quanto às nossas aquisições. Estamos aguardando muito mais e pedindo outras realizações a Deus, ao Universo ou ao Papai-Noel. Esperamos que as coisas sejam melhores no próximo ano, esperamos rever familiares e amigos queridos, entre tantas outras conquistas. Também é um período em que a ansiedade pode ser um grande problema para as pessoas mais sensíveis. Sobretudo em um ano marcado por uma pandemia que tirou tantas vidas. A expectativa com certeza vai lá no alto e pode causar frustrações.
Essa semana, enquanto esperava por uma resposta importante, eu, que sofro com a ansiedade crônica, precisei gastar muita energia para não enlouquecer. Corri, cozinhei, fiz terapia e outras tantas coisas que são indicadas a quem tem esse problema. Mas foi em uma conversa com uma grande amiga que eu tive um choque de realidade. Enquanto eu tentava, a todo custo, me livrar do excesso de energia e negar aquilo que estava sentindo, ela me questionou “qual é o problema de estar ansiosa?”. E mais: “você está esperando uma resposta importante, qual o problema de sentir essa expectativa tão alta?”. E aquilo me fez repensar muitas coisas.
Em inúmeros momentos de nossa vida, tentamos negar nossos sentimentos. Fazemos de tudo para ignorar que estamos ansiosos, tristes, bravos ou até mesmo felizes. Nossa sociedade faz parecer fraqueza a demonstração de sentimentos e emoções quando, na verdade, eles são parte inerente – e importantíssima – do “SER humano”. Claro que não podemos deixar que as emoções, sobretudo as que nos são prejudiciais, tomem conta de nosso ser. Elas precisam sim de atenção, cuidado e terapia. Mas senti-las é natural e a negação faz tão mal quanto dar mais valor do que o necessário para esse tipo de sentimento.
Cada vez que embalamos uma emoção e guardamos numa caixinha escondida, ocupamos um espaço valioso em nosso ser. Este espaço poderia estar reservado para boas memórias, felicidade ou até para novas pessoas que acabam não tendo seu lugar em nossa vida porque ela está ocupada demais. O que eu espero, de verdade, é que deixemos de lado essa ideia de que sentimentos são sinal de fraqueza e possamos vivê-los em sua potencialidade, abrindo nosso coração e mente para que novas emoções e vivências sejam realmente aproveitadas.