Acabamos de passar pela Páscoa, uma das festas mais tradicionais da Cristandade que, tal como o Natal, une o mundo inteiro em um espírito de amor fraternal. Todavia a Páscoa, tal como a celebramos hoje como Cristãos, não era assim no tempo de Jesus. A Páscoa que temos hoje é uma criação exclusiva da Igreja Católica Romana. Hoje parece tudo uma coisa só e parece que sempre foi assim e que sabemos tudo sobre Jesus, mas na sua época, as coisas eram muito diferentes.
Na época de Jesus, quatro grandes grupos religiosos judaicos detinham quase toda a força espiritual na Palestina: Os Saduceus, os Fariseus, os Nazarenos e os Essênios. Os Saduceus eram os que comandavam o Templo de Jerusalém, eram legalistas e ditavam as “regras espirituais”; os Fariseus se espalhavam por todo o resto da Palestina e, como não podiam ensinar no Templo, criaram as Sinagogas, para poder ministrar seus ensinamentos. Podemos dizer que os Rabinos de hoje são os descendentes dos Fariseus. Os Nazarenos, que tinham seu agrupamento praticamente todo na Galileia, eram Fariseus que tinham tomado para si o voto de Nazireu (os consagrados), onde não podiam cortar o cabelo, nem beber vinho, dentre diversas outras regras. O maior grupamento de Nazarenos na Galileia tinha por volta de 200 pessoas e deu origem ao povoado de Nazaré, que, na metade do primeiro século, seria elevado ao status de cidade. E, por fim, os Essênios, que também eram Nazarenos, mas que haviam migrado para os arredores do Mar Morto, mais próximo de Jerusalém. Sua comunidade mais famosa foi a de Qumran.
Jesus nasce entre os Fariseus Nazarenos da Galileia, e é ensinado desde pequeno a Lei e Os Profetas (todo o texto que chamamos de “Antigo Testamento”), tornando-se um grande Rabi Fariseu, com uma interpretação própria das Escrituras, dado seu conhecimento profundo delas advindo do Pai, que as ordenou. João Batista mesmo, em João 1:24-27, deixa claro que Jesus era também um Fariseu, o que é comprovado durante todos os evangelhos pela forma com que ensina, incluindo a liberdade de ministrar esses ensinamentos dentro de uma Sinagoga; local exclusivo para Rabis Fariseus.
Porém, Jesus era muito mais que um simples Fariseu, ele era um Nazareno e também um Essênio, que naquela época já tinham uma forma muito particular de interpretar as escrituras: a mesma que Jesus tinha. Os Essênios vestiam-se de branco e agrupavam-se em 12 discípulos e um Mestre da Retidão, quando, todo fim do dia, faziam uma ceia, onde o mestre partia o pão e distribuía aos discípulos na mesa e, por fim, repartia vinho novo (suco de uva) e compartilhava entre todos também. Durante esse momento eram ministrados os ensinamentos. Um aprendiz Essênio só podia se tornar um Mestre da Retidão e formar seu próprio grupo a partir dos 30 anos e, diferente das outras seitas judaicas da época, os Essênios eram os únicos que batizavam nas águas, e lavavam os pés entre si como sinal de humildade e fraternidade. Fora que diversos ensinamentos Essênios são ministrados por Jesus durante os evangelhos.
Esses ensinamentos foram descobertos graças aos pergaminhos encontrados nas cavernas de Qumran, no Mar Morto. Textos mais antigos que os próprios evangelhos. Muito anteriores a Jesus, contando as regras dessa comunidade de Essênios e também seus ensinamentos.
Na época de Jesus o mundo era outro, e os ensinamentos eram muito mais pulverizados do que podemos imaginar. Muita coisa chegou até nós nos dias de hoje modificadas, com enxerto, com corte e alterações. Por isso é imprescindível consultar as obras mais antigas para tentar montar um mosaico daquela época e entender o contexto no qual as escrituras foram produzidas. Só entendendo o verdadeiro sentido dos ensinamentos é que podemos nos tornar melhores humanos.