Uma das conversas mais marcantes da minha vida foi com meu pai, uma semana antes dele deixar esse mundo. Nesse dia, deitado em um velho sofá que tínhamos próximo à porta da sala, ele chamou para uma conversa importante.
Fazia uma semana que ele havia retornado do hospital e recuperava-se de um infarto. Recordo que o próprio médico que o atendeu na época, um dos maiores cardiologistas do Estado, deixou claro que ele nem deveria estar vivo, mas, segundo meu pai, ele precisava ter aquela conversa comigo e se despedir da família.
Quem já leu outras de minhas colunas, já deve ter reparado que minhas lembranças sobre meu pai sempre têm um cunho mais, digamos, ocultista, no sentido de ser de conteúdo místico-filosófico e, às vezes, religioso. E isso é verdade. Esse é o pai que eu tive.
Naquela conversa em questão, ele me explicou alguns pontos importantes de nossa família que, nas próprias palavras dele, haviam sido passados a ele por meu avô, seu pai, e ao meu avô, pelo meu bisavô antes disso. É claro que o conteúdo daquela conversa é pra mim somente e, se um dia vier a ter um filho ou filha, certamente, se eu vier a deixar esse mundo, antes passarei esse conhecimento a ele ou ela. Porém, um detalhe desse conhecimento é o que me motivou a escrever hoje: a responsabilidade pelo futuro.
Todos nós, sem exceção, em escalas particulares, temos responsabilidade pelo futuro. Não somos seres isolados, nem independentes. Somos instâncias da vida, coexistentes e interdependentes. A ação de um, mesmo imperceptível, afeta a vida de outro. O mal ou o bem que você faz a si mesmo, reflete em algo bom ou ruim na vida de outras pessoas. O conceito de que “Ah, ele, fazendo isso, só causa mal a si mesmo”, não existe realmente. Toda ação ecoa na progressão dos acontecimentos. E isso não é misticismo, é matemática, é teoria do caos: “Pequenas modificações em um sistema podem ocasionar resultados significativos se esse apresenta dependência sensível, ou seja, o qual pode ser alterado por diversos fatores de maneira não linear”. Esse é o caso da interdependência humana.
Por isso todas as ações que tomamos precisam ser cuidadosamente pensadas, pois elas afetarão o futuro de um complexo sistema. E nós, enquanto seres imersos nesse sistema, precisamos mantê-lo em manutenção constante para que sua progressão seja sempre harmoniosa e fecunda. Somos parte de algo que vai além de nossa individualidade aparente. De fato, somos diversas instâncias de uma única vida que se propaga desde tempos imemoriais e precisamos protegê-la. Faça sua parte de forma consciente. Pense nos outros. Seja humano.