Os mais sábios homens e mulheres da antiguidade já compreendiam que o universo manifestado, aquele no qual viviam, era ação de algo além de seus sentidos, de sua compreensão, e que a tudo dava vida e a sustentava. Mas eles viam também que, pelas cidades, grupos e aldeias de suas regiões, diversas pessoas cultuavam seus deuses locais e lhes rendiam oferendas, promessas, faziam pedidos e jogavam maldições.
Esses sábios entendiam, dentro de si, que aqueles deuses pessoais, que guerreavam entre si e viam seus povos se digladiando, favorecendo um em detrimento do outro, não podiam ser deuses de verdade. Eles entendiam que se houvesse mesmo um deus que a tudo tinha criado e sustentava a vida, ele o faria para todos, sem distinção, tal como o Sol, que se levantava todos os dias e brilhava sobre todos, sem julgá-los, sem escolher este ou aquele povo. Assim, se fosse como o âmago de suas consciências lhes sussurrava e existissem tais forças divinas, elas seriam imparciais como o Sol e, esse, seria um perfeito símbolo de sua existência. E foi assim, através dos sábios, que o Sol se tornou o maior símbolo divino na aurora da humanidade. Primeiro entre os Sumérios e Acádios e, sem seguida, entre os Egípcios. Esses últimos passaram a dedicar esforço sem igual para compreender essa força divina e é graças aos seus sábios que o saber sobre a Verdade Última prevaleceu protegida nos Mistérios que guardaram a Metalurgia Sagrada.
Todavia, como os sábios entendiam o funcionamento das coisas e da mente, compreendiam que aqueles povos cultuariam o Sol como mais um de seus deuses e não entenderiam, tal como eles entendiam, pelo poder da simbologia, que o Sol apenas traduzia uma verdade, de que a verdadeira divindade não estava naquelas adorações, naquelas estátuas, mas permanecia oculta e era justa com todos, sem distinção. Um Deus Oculto, ao qual eles deviam buscar. E é dessa forma que esses primeiros sábios passaram a procurar sem cessar pelo vislumbre da Verdade Última, da qual as pequenas faíscas ainda percebiam, mesmo naqueles cultos bárbaros dos diversos deuses que lhes rodeavam.
E, como previsto, enquanto o Sol se tornou apenas mais um dentre tantos deuses para os povos, para os sábios era como um farol que lhes guiava em busca do Deus Oculto que gerava e mantinha tudo o que se manifestava no mundo. Um símbolo que começava a traduzir profundamente em suas consciências uma Verdade. E foi através dessa busca que eles entenderam a Verdade Última e vislumbraram, com desproporcional dificuldade, os mais acessíveis aspectos do Deus Oculto. Mas, mesmo nessas limitações, ao longo do tempo e das gerações, eles entenderam algo de sublime que jamais poderiam esquecer.
O Deus Oculto é a própria Existência, é sem começo ou fim, não foi gerado porque Ele é tudo e, assim, não há nada fora Dele que possa tê-Lo gerado. E não tem fim, porque sendo tudo, nada pode exterminá-Lo. Dessa forma o Deus Oculto é uma Existência perpétua, a força primordial, apenas sendo, acima de qualquer revelação inteligível ao ser humano. Todavia é em Seu movimento, Sua ação, que se dá a Manifestação, isto é, a criação, o surgimento das “coisas que conhecemos”.