É bom ter preconceito?

Essa semana passada tive uma conversa com um amigo de inteligência ímpar, com quem sempre discuto temas profundos. São conversas que agregam algo, que sempre jogam aquela pedra no lago. E, nesse último chopp juntos, ele me disse que ter preconceito era bom. Eu, acredito que igual a você leitor, fiquei chocado no mesmo instante.

Hoje em dia, com o uso indiscriminado e inconsequente das palavras, muitas delas já estão perdendo o sentido etimológico, ou mesmo o sentido léxico, dado a ela na norma culta; isto é, seu sentido real, que consta no dicionário. O que ela significa de verdade. E, a palavra preconceito, que vem de pré+conceito, ou seja, uma ideia pré concebida antes de conhecer de fato o objeto do conceito, tem um sentido muito simples: é a ideia que formulamos, com base no conhecimento que temos, antes de conhecermos o objeto de fato. E esse processo de inferência com base no nosso conhecimento prévio é o que nos manteve vivos desde o início dos tempos. Estamos vivos por causa do preconceito.

Nos dias atuais, quando se fala de preconceito, logo vem à mente o preconceito racial, de gênero ou religioso, mas não é o caso, nesses pontos. Há, realmente, muito preconceito em diversas áreas, porém há muito mais intolerância do que preconceito. E é aqui que entra meu contraponto nessa discussão, porque o preconceito pode ser bom, realmente, porém inicialmente, até confrontarmos o objeto. Porque, nesse momento, a confrontação ou positiva o preconceito, ou o nega. Em ambos os casos, não há mais um pré conceito, mas agora temos um conceito propriamente dito. Pois agora sabemos a verdade. Neste momento vem a segunda parte. Porque podemos não aceitar o fato do objeto, caso ele negue nosso pré conceito, e sermos inflexíveis quando a essa informação. Não queremos mudar nossa visão, não aceitamos isso mesmo sabendo o fato. A isso o léxico dá um nome: intolerância. Que é não suportar algo, não aceitar uma visão contrária ou achar muito difícil fazê-lo.

Sendo assim, a essa altura da conversa, concordo com meu amigo, com ressalvas, que o preconceito é inicialmente positivo, porque ele é um processo natural de inferência do ser humano, e é por conta dele que evitamos muitos problemas. É o medo do desconhecido. É aquele “cara, acho que não vai dar certo”. Isso é preconceito, no sentido real da palavra. Porém, quando confrontado por fatos, estatísticas e outras experiências, ele vai se tornar um conceito, você querendo ou não. E quando não quer… então entra a intolerância.

Ser intolerante, no sentido social, não é o mesmo que ser intolerante a lactose, por exemplo. Intolerante a lactose não pode ter contato com a lactose. Ele passa mal. O intolerante social, não necessariamente vai ter que se retirar do local por conta do objeto do preconceito estar na conversa. Todavia vai achar muito desconfortável compartilhar o momento com ele.

Porém, é necessário deixar claro que intolerância não é o mesmo que racismo, nem homofobia, nem xenofobia. Esses últimos são problemas estruturais, onde a pessoa acredita que o objeto do ‘preconceito’ é inferior, ou está quebrado. Não se trata mais de intolerância, de aceitar ou não uma opinião. Não estamos falando desses conceitos acima nesse texto.

Resumindo, o preconceito é um ponto de partida para uma inferência e, depois de confrontado pelo objeto deve, por consequência, tornar-se um conceito. Caso contrário, se o fato faz contraponto e não o aceitamos, nós nos tornamos intolerantes.

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