Há anos li um conto de 1959, chamado All you Zombies, do escritor de ficção científica norte americano Robert Heinlein. No conto ele traz a história de um homem em um bar que conta ao barman sua vida complicada. Ele conta que, no início da vida, era uma mulher que havia crescido em um orfanato, mas era intersexuada, isto é, nascera com ambos os sexos biológicos. Ele conta que, quando era uma adolescente, fora seduzida por um homem misterioso e, depois de engravidar, durante o parto de cesariana, por conta de complicações, precisou passar por uma cirurgia que fez nela uma ressignificação de sexo, deixando-a apenas com os órgãos masculinos. Nessa mesma noite, um homem mais velho roubou sua filha e sumiu. A mulher, adaptando-se à sua nova vida de homem, trabalha e segue em frente.
O barman, ouvindo aquela história, explica a ela (que agora é um homem) que, na verdade ele é um viajante do tempo e a leva para se vingar do homem que desgraçou sua vida. Ele a deixa na época de quando era adolescente e viaja adiante, à noite do parto, para roubar a criança. O barman então volta no tempo e entrega a criança a um orfanato. A mulher, que agora era homem, presa na época em que era uma adolescente, tenta encontrar o homem que a desgraçou, mas acaba conhecendo uma garota e começa a namorar, engravidando-a. O barman retorna e leva a mulher de volta ao bar, no presente e, deixando-a lá, parte para o futuro, onde vivia. No futuro, deitado em sua cama, para descansar, o barman olha para a cicatriz da cesariana em sua barriga e diz: “eu sei de onde vim, mas todos vocês, zumbis, sabem de onde vêm?”
Esse conto sobre viagem no tempo mostra um personagem que é pai, mãe e filha de si mesmo. Algo extremamente paradoxal e complexo. Esse mesmo conto teve uma adaptação para o cinema chamado “O Predestinado”. Perdão pelo spoiler.
O importante de ter em mente ao ver esse tipo de história é que, mesmo sendo ficção científica, sempre há um ensinamento. Ficções científicas sempre retratam problemas filosóficos. A lição que se pode refinar desse conto é o fato de sermos nossos próprios progenitores e, isso, claro, em um sentido filosófico. Nossos pensamentos no presente podem modificar nossas memórias, criando novas lembranças e, logo, um novo passado, que transformará nosso presente, criando um novo futuro. Confuso? Talvez. Porém, trata-se de ser o resultado de si mesmo, de escolhas próprias e de crenças pessoais.
Através do presente temos total controle, tanto do passado, quanto do futuro. Desenvolver a habilidade de resignificar memórias do passado deveria ser uma das prioridades do desenvolvimento humano. Esse controle garante o poder de reescrever o presente e projetar o futuro com muito mais controle. Aprenda sobre ressignificação de memórias para ver um novo horizonte se abrir a sua frente. E leiam o conto ou vejam o filme. Sério.