A Loja 77 – Parte II

Fazia três dias que Felipe estava preso em casa. O temor por sua vida era tamanho que sequer tinha coragem de olhar pela janela, uma vez que, quando o fizera, fora confrontado pela imagem sinistra de um carro preto estacionado do outro lado rua, cujos ocupantes pareciam friamente interessados em observá-lo.

No telefone, um ruído estranho lhe indicava que algo estava errado. Estariam espionando ele? Haviam grampeado seu telefone? Era possível, já que o próprio sinal do celular parecia ter sumido desde que o carro havia chegado. E, com todos aqueles problemas, certamente já havia perdido seu emprego de atendente na rede de fast-food onde trabalhava.

Felipe era sozinho, não tinha família naquela cidade e, não por acaso, havia se mudado para lá fazia poucos dias. E, agora, com aquela carta em mãos, sabendo da existência daquela famigerada “Loja 77”, tudo o que pensava era em como chegar até eles, para pedir ajuda. E, assim, suspirando profundamente, tomou sua decisão: “Vou ir, e seja o que Deus quiser. Abro a porta e corro…”, ele murmurou baixinho para si mesmo.

Aproximando-se da porta, preparando o derradeiro momento, Felipe olhou o endereço uma última vez. Tinha ideia de onde era, mas não certeza. Criara um mapa mental do caminho, pelas ruas e bairros que deveria passar e sabia, no seu íntimo, que assim que colocasse os pés para fora, deveria disparar sem olhar para trás. E assim o fez.

A pancada da porta se fechando foi tudo o que ecoou enquanto o barulho da sola dos tênis de Felipe estapeavam o chão da calçada em direção às ruas, becos e vielas que apareciam pela frente. E, sem olhar para trás, ouvia o som dos gritos, dos passos correndo e do motor do carro que viam a seu encalço. O desespero era avassalador. Seu coração, já na boca, parecia desordenado. Sua visão, turvando-se, começava a escurecer. Mas ele não pararia. Não até chegar ao local. E, naquela angústia ele seguiu, até dar de cara com a ingente escadaria de pedra cinza, que dava em duas portas de madeira pesadas sob um arco real, tal como das mais belas catedrais que já vira.

Acima daquele arco estava, singelamente entalhado, o número “77”, e, ao redor dele, em círculo, diversos outros símbolos que desconhecia pareciam fazer-lhe companhia, ou mesmo descrever alguma ideia em conjunto. Entretanto, com o barulho do carro freando em frente ao local, Felipe novamente assustou-se, sendo levado de volta à realidade e, correndo rapidamente pelos degraus, forçou sua entrada pela porta de madeira, invadindo o que parecia ser um salão de festa, onde diversas pessoas, vestidas com longos mantos negro e capuzes para trás, olharam-lhe como se tivessem sido pegas cometendo o pior dos crimes.

“Quem é você?”, gritou um dos homens, tomando a frente.
Felipe estava em choque. Sobre seus mantos, um único colar com um símbolo, apoiava-se sobre o peito de cada um. Era o selo de uma Lua Crescente com um Olho. Mas os seus olhares, ah, aqueles não eram nada convidativos. (Continua…)

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