Quando a dificuldade está em se REadaptar

A busca por um intercâmbio parte, entre outras coisas, da vontade de “se encontrar”, do desejo de liberdade e de novas experiências. E é praticamente impossível voltar de uma temporada em outro país — independente de qual for — sem nenhum tipo de aprendizado e de vivências únicas. Na mala, a saudade também acompanha os viajantes por quase todo o período longe da família, da sua cidade, do país de origem. Mesmo assim, a volta pra casa tem suas dificuldades — às vezes tão grandes quanto o início da aventura.

Para ter uma ideia, tem gente que afirma ter passado por um momento de depressão pós intercâmbio, principalmente devido à necessidade de se readaptar em casa, longe da novidade e do desafio diário que é estar em outra nação. Daniela Schenkel passou um ano em Dublin, na Irlanda. Ela já está de volta e conta que é realmente estranha a readaptação.

“A gente muda mais rápido lá e o que muda não volta a ser igual. Mas tem a parte linda do quanto evoluímos e do que trazemos de cada lugar que conhecemos.”
A jovem conta que sempre teve em mente fazer um intercâmbio e que decidiu encarar o desafio para a Europa em meio a uma crise profissional e passando para os 30 anos. “Pensei: ‘é agora ou não vou mais’.”
Ela conta que durante o período longe, as maiores faltas foram de abraços, churrascos, amigos e da família. Segundo ela, apesar de todas as vantagens e facilidades que se têm em outro país, as dificuldades existem, mas os aprendizados são inumeráveis. “Temos que aprender a conviver em outro idioma, ir ao mercado e comprar coisas erradas porque não se sabe o que é, a respeitar muito o espaço do outro, a conviver com pessoas de outras nacionalidades, a ser muito mais simples, humildes, pedir ajuda para estranhos e estrangeiros e também a ajudar quando você percebe que alguém precisa mais que você”, destaca.

Longe de casa, aprendeu principalmente a ser menos materialista. Em Dublin, as duas principais preocupações da maioria das pessoas é sobreviver e conhecer os países que rodeiam a Irlanda. Ensinamentos que ela traz para a sua vida no Brasil. “Quando voltamos, a vontade de viajar também piora (ou melhora, depende do ponto de vista). Quem já tinha muita vontade de conhecer o máximo do mundo que fosse possível, vê essa vontade dobrar de tamanho. A gente descobre que é muito mais fácil, mais simples, mais possível e não se permite mais parar”, completa.

Quem muda é quem sai
Apesar de ter sido uma experiência única viver seis meses Darlington, nos Estados Unidos, Eduarda Blas lembra da saudade que sentia de casa e de seus pais. “Sentia falta dos meus pais, dos meus amigos, da minha família. Sentia falta da comida, de chegar em casa e me sentir à vontade, porque querendo ou não, aquele lugar não era realmente o meu lar. Confesso que tinha dias muito difíceis, que a vontade era de pegar um avião e ir correndo pra casa. Já outros dias, eu sentia que podia ficar lá para sempre”, recorda.

Segundo Eduarda, a saudade do “calor” brasileiro era grande e voltar para casa foi ótimo, porém estranho. Foi esquisito chegar em casa e ver tudo e todos no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas, enquanto ela não era mais a mesma. Estava completamente diferente. “Quando voltei, eu percebi o quanto eu tinha mudado e amadurecido naquele tempo, e coloquei em prática tudo que eu aprendi lá”, afirma.

Eduarda conta que o intercâmbio mudou seu jeito de ver o mundo e de lidar com as pessoas e as diferentes culturas. A jovem se tornou mais tolerante, mais humana. “Você entende que quando falamos de cultura, não podemos julgar. Temos que entender que todos são diferentes e respeitar as nossas diferenças. Eu confesso que infelizmente, antes de ir, tinha o costume de reclamar muito do Brasil, mas, ao voltar, eu aprendi a amar o meu país.”

Embora ainda queira viajar muito e morar em vários lugares diferentes, Eduarda vai sempre considerar o Brasil seu lar. Mesmo com muito a melhorar, o país é lindo e diversificado, o que é difícil de enxergar por conta do momento que estamos passando. “Hoje eu tenho muito orgulho se der brasileira! Fazer um intercâmbio é algo que só vai acrescentar na nossa vida. Então, para quem tem esta oportunidade, não pense duas vezes. É a melhor coisa que você fará. Eu faria tudo de novo”, incentiva.

FOTOS: ARQUIVOS PESSOAIS

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