Ler um conto, história ou poesia é transferir-se para outro mundo. É aprender a ter empatia ao colocar-se no lugar de um personagem. É encontrar-se entre tantas situações; sentir afinidade. É viver, experimentar, conhecer e fruir de sentimentos através das palavras – e da mente. O texto é sempre de quem o lê.
E um novo mundo de signos e sentidos será apresentado no próximo mês, julho, pela psicóloga e psicanalista montenegrina Adriana Bandeira. Esse será o segundo livro lançado por ela (e o primeiro de poesia), intitulado Escritos de Calabouço. A estreia foi com Chá das Cinco, em 2005. Ainda não há data de lançamento definida pela editora, mas o local já: Porto Alegre e, após, São Paulo.
Adriana tem participação em outras duas obras, Escritos de Abandono e Histórias de Trabalho, e material para mais três livros, segundo afirma.
Na nova criação, a escritora traz 95 poesias grafadas, produzidas a partir de 2017. “Trabalhei quatro anos e meio com políticas públicas e minha companhia maior nesse período foi a escrita. Em 2016, essas mesmas políticas sofreram muitas mudanças negativas. E comecei a escrever poesias denunciando o amor nas relações. Esse amor deixado de lado, brega, no país pós-golpe”, explica.
Contudo, Adriana esclarece que não se trata do amor romântico, mas do sentimento como mola impulsionadora. “Que faz com que se vá em busca do que se deseja, em relação ao trabalho, às metas de vida, a tudo…”.
No seu processo criativo, a psicanalista conta que basta sentar e escrever. E defende que não há fórmula: cada pessoa precisa descobrir o seu jeito de criar. Para os Escritos de Calabouço, a inspiração veio como “encaminhamento do que sobrou de certo padecimento das políticas públicas”. “Fazemos poesia o tempo todo. E trago um pouco da psicanálise que reconhece a poesia como algo de todo mundo. Todos combinamos palavras, mesmo que em pensamento. Alguns transcrevem”, destaca.
“A poesia não é de quem escreve”
“A poesia não é de quem a escreve. A letra é morta e quem lê revive aquele escrito do seu jeito. E todos os discursos são sempre de poder, menos o da arte. Ela não tem uma compreensão, mas faz uma intervenção no outro, conforme própria interpretação de quem a frui”, pontua Adriana.
Leitora voraz para alimentar sua caixa criativa, a autora afirma que é na leitura das coisas que existimos. “Fazemos leitura constantemente; do ambiente, das pessoas. No nosso inconsciente, a linguagem já está estruturada. Tente pensar apenas em uma imagem… automaticamente ela já vem ligada a uma palavra”, observa.
Especificamente sobre a falta de dedicação das pessoas à leitura de livros e textos, Adriana acredita causar um empobrecimento e estreitamento da existência. “É possível vivenciar a experiência do semelhante ao ler. A leitura tem uma função civilizatória e proporciona, principalmente para quem escreve, uma rearticulação das palavras”, conclui.