De geração em geração, os ditados populares se mantêm vivos

Os ditados populares e provérbios fazem parte da cultura de cada local. De Norte ao Sul do Brasil, são frases que servem de conselhos, críticas ou gracejos. Não restringindo seu significado e simbologia, os ditos são carregados de sabedoria, passados de geração em geração.
Quem não se lembra de ter ouvido, pelo menos uma vez na vida, que em casa de ferreiro o espeto é de pau? Ou que alguém está mais perdido do que cusco em tiroteio?

Fato é que os ditados tomam boa parte de nosso vocabulário, adaptando-se e surgindo de tempos em tempos. Incisivos, sempre buscam trazer alguma lição ao ouvinte. E há até quem dedique a carreira a pesquisá-los. A ciência responsável por esse estudo, analisando-os como fenômeno linguístico, chama-se Paremiologia.

Para a professora Lisandra Machado, da Escola Cinco de Maio, formada em licenciatura em Letras, existem muitos tipos de ditados populares. “Como os bíblicos, regionais, estrangeiros, que podem ser elencados e explorados de diversas maneiras. Abre um leque grande para o educador trabalhar em sala de aula”, defende.

Mas provérbio e ditado popular são a mesma coisa? Lisandra responde que, apesar de serem encontrados como sinônimos, as figuras de linguagem podem ter construções diferentes. “É uma linha muito tênue. Provérbio pode ser mais metafórico, poético”, explica.

Atualmente lecionando para as séries iniciais, Lisandra conta que trabalhará ditados populares para o Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto

Ela destaca, ainda, que os ditos permanecem sempre atuais. “Pois falam de aspectos universais da vida; do cotidiano. Há provérbio para praticamente qualquer situação, e sempre tem uma lógica por trás. Não se sabe de onde surgiu, como teve início. Por ser folclórica, tem identidade anônima”, pontua.

Para a docente, a maneira de trabalhar o conteúdo, que faz parte da Língua Portuguesa, é diferente para cada série. “Na Educação Infantil, a forma de trabalho é sempre muito light. Para as séries finais do Ensino Fundamental, o enfoque é diferente. Os ditos populares são explorados com mais seriedade, aprofundamento. Termos específicos, nomenclaturas e metáforas passam a ser ensinados. Essa etapa exige um olhar diferente por parte do aluno. Como você vai chegar a uma criança e questionar “qual a metáfora que envolve esse provérbio”? Eles ainda não estão preparados para essa aprendizagem”, diz.

Atualmente, a professora se prepara para iniciar o conteúdo com os estudantes, por conta do Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto. “Durante a pesquisa, quando se faz um projeto, encontra-se que cada região tem suas peculiaridades. O gaúcho tem muito característico o uso de termos animais como “cusco” e “cavalo” ou, ainda, “china e campanha””, conclui.

Alguns ditados populares do Sul
– Deus ajuda a quem cedo madruga.
– De cavalo dado, não se olha os dentes.
– Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.
– Gato escaldado tem medo de água fria.
– Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
– Quem tem pressa come cru.
– Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
– Quem não tem cão caça com gato.
– Coisa feia, cachorrada nas ovelhas.
– Puxa um cepo e senta no chão.

Gerações antigas passam a cultura para os descendentes
Pai de Lisandra, João Simpliciano Machado, 77 anos, acredita que, pelo fato de ser mais velho, já ouviu muitas frases populares. “E muitas ficaram retidas na memória”, esclarece. Com um caderno de anotações em mãos, explica que grande parte dos ditados que escuta e aprecia, transcreve para o papel. A crítica e a reflexão, segundo João, são intrínsecas às frases.

Atualmente lecionando para as séries iniciais, Lisandra conta que trabalhará ditados populares para o Dia do Folclore, comemorado em 22 de agosto

Tendo morado por muito tempo em regiões próximas à fronteira, em Santiago e São Francisco, o aposentado reconhece que, nesses locais, o uso é ainda mais forte. “Acredito que os ditados se tornam mais interessantes quando mantêm a tradição. É curioso, forte do linguajar e se torna pitoresco. Deve existir, sim, um para cada situação, mas não tenho a pretensão de conhecer todos”, salienta.

João também crê que a cultura passa dos mais velhos aos mais jovens, principalmente de forma oral. “Por isso, é possível que mude ou deturpe um pouco com o tempo; é fácil sofrer alterações. Na vida profissional, atuei por 30 anos, sem nunca colocar um atestado. Depois que me aposentei, sempre falo: quando eu canso de estar parado, paro para descansar”, brinca.

 

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